Dedo de prosa

Como lidar com autores difíceis

Quando falamos nos grandes nomes da literatura mundial, clássica ou contemporânea, muita gente acha que eles são sinônimo de livros complexos demais. Por isso, acabam deixando passar leituras incríveis por medo de não compreendê-las. Isso não é verdade, e o artigo de hoje vai te ensinar a lidar com autores considerados difíceis para que você amplie seus horizontes e descubra um mundo de novas possibilidades literárias.

Em primeiro lugar, vale frisar que existem, sim, obras e estilos de narrativa mais complexos que outros. Cada livro tem sua razão de ser. Um livro cujo público alvo são os jovens adultos precisa adequar sua linguagem, e às vezes até suas mensagens, à essa faixa etária. Entendam, isso não significa dizer que livros YA têm baixa qualidade, mas apenas que cada tipo de literatura tem suas próprias características que a torna mais ou menos difícil de ler e de compreender.

Outro exemplo de narrativas que costumam ser mais fluidas e não pretendem passar mensagens super elaboradas, são os romances policiais (que eu adoro, diga-se de passagem). Não raro, a leitura desse tipo de livro é rápida e não pede muitas reflexões. O resultado disso é que essas obras, assim como tantas outras que exigem um pouco menos do leitor acabam por se popularizarem, o que é ótimo, mas desencadeiam um certo preconceito literário com outros estilos narrativos como, por exemplo, os clássicos.

Leia mais sobre clássicos no artigo Quem tem medo dos clássicos?

Até mesmo no que diz respeito aos clássicos, encontramos níveis de dificuldade diferentes. As histórias de Sherlock Holmes são um caso de literatura clássica super fácil de ler e entender. Sir Arthur Conan Doyle escreveu suas histórias de forma simples, o que não as impede de serem extremamente bem desenvolvidas.

Claro que, se a tradução de um livro for bem feita, o vocabulário da época em que ele está inserido pode causar um certo estranhamento, mas isso está longe de ser um empecilho à leitura.

Mas então, o que fazer quando nos deparamos com autores, de fato, mais difíceis? Porque eles existem, isso é verdade. O que não é verdade é que exista algo no mundo que você não consegue ler. Você pode não gostar, o que é diferente, mas conseguir, você consegue sim.

Se você não quer se aventurar em leituras mais, digamos, substanciais, tudo bem. Só tenha em mente que quando ficamos sempre no mesmo lugar, não evoluímos. Mas isso é realmente uma escolha. Já para o leitor que quer se aventurar em livros mais difíceis mas têm medo, aí vão algumas dicas…

1. Esqueça quem escreve e avalie a sinopse

O que mais nos impulsiona a ler uma obra, é a história que ela conta. Nós escolhemos livros que achamos interessantes, não é? Portanto ao se deparar com um autor que você considera complexo demais, leia a sinopse, procure comentários, resenhas e verifique se a trama, em si, te interessa.

Muitas vezes descartamos títulos que poderiam se transformar em preferidos da vida apenas porque agimos com preconceito. Preconceito, sim. Avaliar algo sem conhecer é o quê?

Assim, quando você estiver diante de um Dostoiévski ou de um Thomas Mann, não saia correndo. Esqueça quem é o autor e atente apenas para a história que será contada. Se te interessa, dê o primeiro passo.

2. Paciência é uma virtude

Okay. Você deu o primeiro passo, superou o medo e pegou um autor que considera difícil para ler. Agora tenha em mente que a narrativa não é o que você está acostumado, ou seja, vai exigir um período de adaptação.

Quando comecei a ler 1984, um dos primeiros livros mais complexos que tive contato, logo percebi que teria que prestar mais atenção àquela narrativa do que estava acostumada a me atentar aos livros que lia na época. A leitura é mais lenta, principalmente no começo, então não fique ansioso para ler rápido.

Além do mais, é muito raro a pessoa que está introduzindo uma literatura mais multíplice em sua vida, já começar lendo um Stendhal, por exemplo, em dois dias.

Saboreie o texto, leia um pouco por dia, não se estresse. Leitura é prazer, mas também é movimento. Se dê a chance de alçar diferentes voos mas não queira vencer o caminho  todo de uma vez. E muito importante: não desista fácil.

3. Avalie friamente

Eu disse para não desistir fácil, mas também não precisa se obrigar a ler um volume de 900 páginas só para falar que não desistiu.

O segredo é o seguinte: se permita conhecer a escrita daquele autor dando um tempo suficiente para isso, mas se a coisa não andar, avalie friamente se aquele livro é para você. A história se mostrou diferente do que você pensava e o que está sendo apresentado não te interessa? O texto está extremamente confuso pra você? Você realmente não está gostando nada do livro? Então parte pra outra.

4. Tente outra vez

Citei minha experiência com 1984, a qual foi difícil no começo mas depois acabou se tornando um dos meus livros preferidos. Em contrapartida quando li O Nome da Rosa fiquei irritada e triste por não ter me identificado nem um pouquinho com aquela obra tão cultuada.

Para saber mais leia o artigo Sobre a obrigação de gostar de um livro

Depois que isso aconteceu, comecei o processo novamente: analisar as sinopses, esquecer quem escreveu, iniciar a leitura, ter paciência durante a adaptação. Se eu tivesse jogado tudo pra cima e desistido de mergulhar numa literatura mais profunda, eu não teria conhecido o livro que se tornou o preferido da minha vida (até o momento): Jane Eyre.

Mesmo dentro de um gênero ou estilo que já estamos acostumados, acontece de não gostarmos de um livro. Portanto, insista que você será recompensado.

5. Tudo por uma boa causa: você

Talvez você esteja pensando: mas pra que tanto esforço pra ler autores difíceis?

Primeiro, para quebrar barreiras. Se livre das amarras que te impedem de evoluir, e esse conselho vale para todos os ramos da sua vida, inclusive para a literatura. Muitas vezes deixamos de aprender algo novo pelo simples medo de tentar, ou pior, pela preguiça de nos esforçamos em prol de nós mesmos. Afinal, é tão cômodo e seguro ficar parado no mesmo lugar, não é?! Mas se você faz isso, não adianta reclamar da vida.

Em segundo lugar vem o fato de que, em algum momento, provavelmente você irá se apaixonar por esses autores. É isso o que acontece com todo mundo que se aventura nesse tipo de literatura. Você já percebeu como os amantes dos grandes escritores falam sobre eles? É um entusiasmo que contagia e, fala a verdade, te deixa curioso para saber o que esse pessoal tem de tão bom.

Por fim, se os livros de uma forma geral nos fazem pensar, as narrativas difíceis são consideradas assim justamente pelo fato de propor reflexões mais elevadas. Elas explodem nossa cabeça pelas ideias que propõem e não apenas pelos fatos que descrevem. Elas são uma oportunidade de treinar nossa atenção e nossa interpretação. Enriquecem nosso vocabulário, nos ensinam história, nos permitem dialogar com os grandes mestres do passado e do presente.

Lembre-se que não estou falando apenas de clássicos, mas de autores considerados difíceis como um todo, inclusive contemporâneos incríveis que estão por aí esperando por você. Eu diria até, sem medo de exagerar, que esperando para mudar sua vida.

2 Comentários

    • Michelly Santos

      Olá Ana!
      Tudo bem sim, espero que com você também!
      Tem livro que é bem assim mesmo! kkkkkkk… Mas como falei, tudo bem abandonar leituras que realmente não dão certo,só acho que a gente não precisa desistir tããão fácil. 😉
      Romance policial é uma maravilha pros momentos de ressaca literária, né?!
      Beijão!

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