Sagas e coleções

Harry Potter

Em julho de 2018 decidi me aventurar na coordenação de um clube de leitura de Harry Potter. Para isso, reuni uma galera que queria reler a saga de J. K. Rowling e alguns até que iriam ler pela primeira vez. Assim nasceu o projeto De Volta à Hogwarts, onde todo mês passamos a ler um livro e assistir à adaptação correspondente.

E como prometido no início do projeto, hoje é dia de falar sobre a série responsável por conquistar milhões de leitores e que se transformou em um marco na história da literatura contemporânea. Com vocês, Harry Potter…

O menino que sobreviveu

É na Rua dos Alfeneiros, nº 4, que conhecemos o menino que sobreviveu, também conhecido como Harry Potter. Seus pais haviam sido assassinados por um temível bruxo das trevas, o maior de todos os tempos, aquele-que-não-deve-ser-nomeado, e Harry foi entregue aos cuidados de sua tia Petúnia.

É certo que “cuidado” não é bem a palavra que Petúnia e seu marido, Válter Dursley, tinham com Potter. O garoto cresceu dormindo num armário embaixo da escada enquanto o filho do casal, o insuportável Duda, tinha tudo o que uma criança pode sonhar, inclusive o controle dos pais.

Foi nesse ambiente que Harry Potter viveu até descobrir que ele era, na verdade, um bruxo. Sim, um bruxo, daqueles que tem direito a uma varinha e tudo. Foi aí, então, que ele deu início aos seus longos anos de estudo na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. E foi lá também que ele conheceu seus dois grandes amigos: Rony Weasley e Hermione Granger.

Rony vinha de uma família de 7 irmãos: Carlinhos, Gui, Percy, Fred, Jorge, Rony e Gina. É o tipo de gente que bruxos preconceituosos chamariam de “família de sangue puro”, por serem todos bruxos e descendentes de bruxos. O pai de Rony trabalha no Ministério da Magia – claro que existe um Ministério da Magia! – e a mãe se dedica a cuidar da casa e dos filhos.

Já Hermione é o que Draco – calma, chegaremos nele – chama de “sangue ruim”, ou seja, ela veio de uma família de pessoas que não são bruxos, chamados na história de trouxas. Mione é uma garota muito inteligente e perspicaz, vive com o nariz enfiado nos livros e defende suas ideias com unhas e dentes.

Nesse ponto já temos a primeira grande mensagem da história: o valor da amizade.

Muitos dos resultados vitoriosos de Harry não teriam acontecido se não fosse pela ajuda de seus amigos. Quando Harry encontra o assassino de seus pais pela primeira vez, Lorde Voldemort, Rony e Hermione são essenciais para que Harry salve o dia.

A amizade também é colocada como uma forma de trazer leveza aos momentos tristes ou tensos. É sempre bom olhar para o lado e ver pessoas que podemos contar, e era isso o que Potter enxergava em seus amigos. Um apoio. A família que ele nunca teve.

Mas assim como existem os amigos para facilitar, existem os inimigos para dificultar, e apesar de não ser o grande vilão da história, é em Hogwarts também que Harry encontra alguém que será uma pedra muito incômoda em seu sapato durante toda a saga: Draco Malfoy.

Hogwarts é dividida em 4 Casas: Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. Draco pertence à Sonserina, uma Casa que tem fama de ter abrigado o maior número de bruxos das trevas. O trio principal pertence à Grifinória, e logo na escolha das Casas é que começa a rivalidade entre Potter e Draco.

No primeiro livro da saga ainda somos apresentados a outros personagens, vários feitiços – inclusive um que faz objetos levitarem e que se pronuncia wing-gar-dium levi-o-sa, com o “gar” bem pronunciado e longo -, ao Quadribol e ao Expresso de Hogwarts que espera os alunos na Plataforma 9 ³/4 (ou 9 e meia, no Brasil) da Estação de King’s Cross. Enfim, tanta coisa que você terá que ler os livros se quiser conhecer toda a criatividade de J. K.

O herdeiro de Slytherin

No segundo ano de Harry em Hogwarts, algo terrível vem acontecendo: um monstro está atacando alunos, animais e até fantasmas na escola. E para piorar, Potter começa a ouvir vozes que mais ninguém escuta.

É nessa história que conhecemos Dobby, o elfo doméstico mais fofo do mundo que nunca tem a intenção de matar mas apenas de ferir gravemente. Por uma boa causa, que fique claro.

Com Dobby se esforçando ao máximo para tirar Harry de Hogwarts e os alunos desconfiando da ligação do bruxo com os ataques, nosso protagonista começa a perceber que o mundo mágico não é tão encantador quanto parece.

Logo, a mensagem desse livro é sobre resiliência, sobre a capacidade de superar situações adversas e sobre nunca desistir. A resiliência de Harry salva uma vida, e uma vida que faz toda a diferença para ele no futuro…

O prisioneiro de Azkaban

Mas nosso Potter não tem descanso e quando ele está prestes a voltar para Hogwarts pela terceira vez, descobre que tem um bruxo assassino em seu encalço. O clima começa a ficar mais pesado, a história já não parece mais tão infantil e o leitor começa a temer, de fato, pela vida dos personagens.

Algo começa a mudar na escrita de J. K., como se a narrativa acompanhasse o amadurecimento de seu protagonista, agora com 13 anos. A saga de Harry Potter se mostra como um belo romance de formação sendo construído diante de nossos olhos, livro por livro, a cada experiência do trio principal, a cada ensinamento que extrapola as páginas e invade a vida do leitor.

O Prisioneiro de Azkaban é sobre aparências e sobre em quem acreditar. Toda história tem, no mínimo, dois lados e acreditar em verdades absolutas pode não ser uma boa ideia. Nem sempre aquele que foi endurecido pela vida é o “lado mau” da história, assim como palavras bonitas podem esconder o verdadeiro caráter – ou a falta dele – em uma pessoa.

É também um livro sobre as duas formas de encararmos nossos medos: enfrentando ou fugindo.

Harry, enfim, desvenda alguns mistérios de seu passado e se vê mais próximo de suas raízes. Em meio a tormenta, o acalento.

O Torneio Tribruxo

Quarto ano. Hogwarts recebe outras duas escolas de magia para celebrar o Torneio Tribruxo, um tipo de gincana com provas extremamente difíceis e perigosas. Só bruxos maiores de idade podem participar mas adivinha quem é sorteado pelo Cálice de Fogo?

E é assim que acompanhamos Harry vencer dragões, sereianos e… Voldemort.

Definitivamente, a saga toma rumos sombrios a partir desse livro, e o menino que sobreviveu agora sente nos ombros todo o peso que essa alcunha carrega. A primeira morte, tão rápida quanto impactante, vem para mostrar que o Lorde das Trevas ressurgiu e que Harry Potter não é uma história rasa ou infantil.

O Eleito

Voldemort voltou e está reunindo seus seguidores, chamados de Comensais da Morte, novamente. Em contrapartida a organização denominada Ordem da Fênix também volta a se reunir para lutar contra as forças das trevas.

Se por um lado temos Dolores Umbrigde para se consolidar como a pior pessoa da saga, por outro temos Luna Lovegood mostrando que nem tudo está perdido. Enquanto Bellatrix Lestrange se mostra uma vilã a altura de Voldemort, Gina desponta como uma garota forte e competente, uma heroína injustiçada pelas adaptações da série.

Harry, que não teve tempo suficiente para lidar com as crises da adolescência, parece prestes a explodir. O garoto gentil começa a ter rompantes de fúria que fazem o leitor ficar até com um pouco de raiva do personagem. Mas perdoamos, afinal ele é tão jovem, sofreu tanto e nunca usou esse sofrimento para justificar nenhum tipo de comportamento errado.

Ao contrário, Potter prova que uma pessoa que tem a semente do bem dentro de si, não se corrompe pelas intempéries da vida. Seus pais morreram quando ele era jovem a ponto de nem se lembrar deles, sua criação foi totalmente sem amor, o maior bruxo das trevas de todos os tempos é também seu pior inimigo. E em Harry, não há espaço para o mau.

A maior mensagem de Ordem da Fênix reside aí, no fato de que nossas falhas não podem ser, de forma alguma, justificadas pelas falhas dos outros. Se um erro justificar o outro, estaremos completamente entregues à selvageria.

Nesse livro, o bruxo leva outra rasteira da vida, e dessa vez é das grandes. Mas ele precisa seguir, afinal tudo  leva a crer que o futuro do mundo – dos bruxos e dos trouxas – está em suas mãos.

As horcruxes

Harry volta para o que seria seu último ano em Hogwarts, mesmo ele não sabendo disso. Ao descobrir que poderia frequentar as aulas de Poções, ao contrário do que pensava, o bruxo pega um livro emprestado para conseguir seguir a matéria, mas esse livro transforma Potter no mais novo gênio das poções de Hogwarts.

Resistindo aos apelos de Hermione para se desfazer do livro, que antes pertencia ao Príncipe Mestiço, Harry insiste em seguir as instruções do misterioso dono anterior. É aí então que o leitor se lembra de um outro livro, mais precisamente um diário, que o garoto insistiu em usar e que quase resultou na morte de Gina Weasley. Assim, Rowling cria uma tensão que irá nos acompanhar durante toda a narrativa.

Além disso, Voldemort está cada dia mais forte e seu séquito vem aumentando consideravelmente.

Dumbledore resolve, enfim, revelar algumas coisas importantes à Harry sobre o passado do Lorde das Trevas, o qual dividiu sua alma a fim de se tornar imortal e colocou cada pedaço em um objeto, transformando-os no pior tipo de magia que existe: as horcruxes. E destruí-las passa a ser a grande missão de Harry Potter a partir de agora.

É nesse ínterim que Voldemort consegue, então, sua maior vitória até o momento. Será que tudo está perdido?

O fim

Harry não vai voltar para Hogwarts esse ano, ele tem uma missão maior. Rony e Hermione não abandonariam um amigo por nada, então eles também não voltam. É assim que o trio parte em busca das horcruxes de Voldemort.

Eles não sabem o que são, onde estão ou como destruí-las, mas sabem que sem isso o bruxo que matou os pais de Harry jamais poderá ser derrotado.

O desfecho da saga Harry Potter representa um ponto de virada na vida de muitas pessoas que descobriram o amor pela leitura a partir da história e desde então, tornaram-se leitores inveterados. O que Rowling conseguiu, sobretudo no Brasil, um país onde não se valoriza a leitura, é louvável.

A história de Harry é uma história de amor. Por amor que ele foi salvo e por amor ele entregou tudo o que tinha pelos seus. O feitiço de proteção lançado por Lílian quando ela morre protegendo seu filho é uma alegoria à proteção real que o amor nos traz. Se você tem uma família ou amigos que te amam – e que são família também -, então tem quem lute por você. Da mesma forma, você fará o impossível para defender aqueles que ama. Essa é a magia. Ela é real.

Outra mensagem importante que a série traz é a de que você precisa acreditar em si mesmo e levar a sério seus sentimentos. Se há alguma coisa a ser resolvida, resolva. Procure ajuda, conte com as pessoas, acredite que se está acontecendo dentro de sua mente, está acontecendo de verdade. Sentimentos ruins só existem dentro de nós, mas precisam de uma solução. Não se acostume a viver com eles. Da mesma forma, lembranças ou histórias que nos marcam também existem de verdade, e podem ser o combustível que nos levará sempre em frente.

Logo, Harry Potter aconteceu apenas dentro de nossa mente, mas isso não significa que ele não seja real. Foi Dumbledore que me ensinou isso. Deixe que essa história seja real para você também.

 

    

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