Literatura descomplicada

Um amor chamado irmãs Brontë

No início do ano li e me apaixonei pela obra de Emily Brontë, O Morro dos Ventos Uivantes, e a partir daí passei a dar mais atenção às irmãs mais famosas da literatura.

Só que, infelizmente, minha história com elas começou a partir de um preconceito literário. A primeira vez que ouvi falar de uma obra das Brontë foi quando li Crepúsculo (já fazem 81 anos…), onde Bella Swan, protagonista da história, menciona O Morro como seu livro preferido. Eu odiei essa personagem, mas odiei muito mesmo, e passei a considerar ruim qualquer coisa que se relacionava com ela. E a obra de Emily entrou nesse balaio.
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Ignorância da minha parte? Com certeza. Mas a verdade é essa e ponto.
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Eis que no ano passado descobri uma regravação do Angra da música Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes), de Kate Bush, e fiquei viciada. Daí começou a surgir uma vontadezinha de ler o livro mas eu ainda ficava reticente por causa da Bella. Mas a vontade foi aumentando e quando resolvi ler percebi o quanto eu estava sendo irracional de cultivar esse preconceito.
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Porém, se tem um lado bom nessa história é que a minha ausência de expectativas fez com que eu ficasse muito surpresa com relação à qualidade da obra, e desde então venho me encantando cada dia mais pelas vitorianas.
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Charlotte, Emily e Anne nasceram no século XIX, na pequena aldeia de Thorton. Filhas de Patrick Brontë e Maria Branwell, que morreu prematuramente, delegando para a tia das crianças, Elizabeth Branwell, a tarefa de educá-las. As Brontë tinham outros três irmãos: Maria, que morreu de tuberculose aos 11 anos em maio de 1825; Elizabeth, que morreu com 10 anos em junho de 1825, pouco mais de um mês depois de Maria; e Patrick, pintor (responsável pelo quadro que retrata as irmãs escritoras), morreu aos 31 anos graças a seu vício por bebidas e láudano.
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Mas as escritoras não viveram muito mais que seus irmãos. Em dezembro de 1848, três meses depois da morte de Patrick, Emily deixou esse mundo aos 30 anos e tendo escrito apenas um romance. Anne morreu no ano seguinte, aos 29 anos. A Brontë mais nova deixou dois romances como legado, Agnes Grey e A Senhora de Wildfell Hall (que, no Brasil, também recebeu os títulos de A Moradora de Wildfell Hall e A Inquilina de Wildfell Hall). Charlotte morreu em 1855, aos 38 anos, quando estava grávida de seu primeiro filho. Sua produção literária foi a mais extensa do trio, com 4 romances publicados.
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Oficialmente, a tuberculose foi a causa da morte das três irmãs, mas há suspeitas de que Charlotte padeceu devido à complicações relacionadas à gravidez.
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Foi depois de ler O Morro que tomei conhecimento da trágica história dessa família, o que estranhamente aumentou ainda mais minha curiosidade sobre seus livros. Logo em seguida, li Jane Eyre e, mais uma vez, me apaixonei. Primeiro romance de Charlotte Brontë, esse é um trabalho magnífico que acompanha a personagem título durante grande parte de sua vida.
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Apesar do tom bastante diferente entre a história de amor doentia entre Catherine e Heathcliff  (O Morro dos Ventos Uivantes) e a trajetória sofrida de Jane Eyre, ficou claro para mim que o talento delas era hereditário, o que confirmei de forma definitiva quando li Agnes Grey, escrito pela irmã que faltava conhecer, Anne Brontë.
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Como viveram na Era Vitoriana, obviamente a literatura produzida pelas irmãs trazem os traços inequívocos dessa época. Suas histórias são o retrato de um cotidiano duro, onde o trabalho, a perseverança e o amor têm a função de redimir os personagens. Também sempre encontraremos em suas obras algum ensinamento moral como mensagem final.
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Foi graças a Charlotte, Emily e Anne que me fascinei pela literatura vitoriana, além de ter descoberto o nome de um tipo literário que eu já amava mas não sabia que era uma técnica narrativa, o romance de formação.
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Em linhas gerais, só para situar quem talvez não saiba do que se trata, o romance de formação é aquele que acompanha a jornada de um personagem, da infância ou adolescência à maturidade, mostrando seu desenvolvimento psicológico, moral, social, espiritual e político. Ou seja, narra o processo de amadurecimento desse personagem. Para ficar ainda mais claro, vamos trazer para nosso tempo: é isso que ocorre com Harry Potter em sua saga, o que classifica a história mais bem sucedida dos últimos tempos como um romance de formação.
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Tendo em vista que viveram no século XIX, quando o conceito de igualdade entre os sexos não estava desenvolvido, as irmãs Brontë publicaram seus livros com codinomes masculinos. Charlotte era Currer Bell, Emily era Ellis Bell e Anne era Acton Bell.
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Inicialmente, a obra de Charlotte teve um acolhimento muito melhor que as das irmãs, mas o tempo foi justo e mostrou que todas elas mereciam o mesmo reconhecimento.
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A seguir, deixo a relação de obras das autoras para que vocês conheçam e se apaixonem da mesma forma que eu me apaixonei. Garanto que não vão se arrepender de dar uma chance para qualquer um desses romances e com certeza se juntarão ao grupo que têm em comum um amor chamado: irmãs Brontë.
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Charlotte Brontë
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– Jane Eyre (1847)
– Shirley (1849)
– Villette (1853)
– O Professor* (1857)
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* Foi o primeiro romance escrito por Charlotte, porém só foi publicado depois de sua morte. Esse título não está disponível no Brasil, embora já tenha havido edições dessa obra por aqui. Fico na torcida para que alguma editora reconheça o valor desse livro e o relance.
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Emily Brontë
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– O Morro dos Ventos Uivantes (1847)
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Anne Brontë
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– Agnes Grey (1847)
– A Senhora de Wildfell Hall (1848)
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Obs: não posso deixar de citar o livro Juvenília, o qual reúne novelas e contos de Charlotte Brontë e Jane Austen. Vale a pena conferir.
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Parar conhecer a obra completa das irmãs Brontë, em ordem cronológica, clique aqui.

24 Comentários

  • Michelly Santos

    Oi Isabelle!
    Hoje que vi que esqueci de te responder, desculpa! :/
    Eu comecei pelo Morro e achei uma boa. Mas se vc começar por ele também, saiba que o clima dele é totalmente diferente dos outros, com uma atmosfera mais angustiante que os livros das outras irmãs. Você também pode começar por Jane Eyre, que é magnífico e mais dentro do estilo que vc vai encontrar nos outros. Mas, na verdade, acho que no que diz respeito aos livros das Brontë, não tem muita regra sobre por onde começar. Lê as sinopses e começa pelo que te interessar mais! 🙂
    Beijos!

  • Isabelle Brum

    Olá ^-^
    Adorei as dicas e já estou anotando todas aqui pra quem sabe ler algum dia (vou ler as sinopses de cada um com calma depois). Tem algum dos livros dela que você indicaria pra começar a ler?

  • Michelly Santos

    Oi Leisiane!
    Não é feio nada, uma hora vc lê! É bom pq agora você tem vários livros maravilhosos pela frente!
    Eu entendo perfeitamente seu preconceito pq gente que se acha por só ler clássicos é um saco. Tem até um post prontinho aqui onde falo sobre isso, que deve ir ao ar semana que vem.
    Gosto da Jane Austen, reconheço que é uma autora ímpar, mas os livros das Brontë fazem mais meu estilo. 🙂
    Beijos!

  • Leisiane Peloi

    OOOii Michelly!!
    É feio falar que eu nunca li nada das irmas Brontë? E o pior é que eu nem sei explicar o porque eu nunca li nada delas, já assisti o filme Jane Eyre, e amei. Acho que a falta de tempo é o principal culpado por isso, porque eu sempre tenho tantos livros pra ler. Você fala que relacionamento com as irmas começo através de um preconceito por causa de Bella, eu tive preconceito com Jane Austen. Tinha uma garota que eu conhecia q se achava a melhor só por ler clássicos, e por causa disso eu enrolei pra ler Jane kkkkk muito nada ver da minha parte, mas quando foi em agosto eu li Razão e Sensibilidade e me apaixonei de uma tal maneira, que a partir de então venho lendo todos os livros da autora.

    beijinhos, boa quinta!
    Amanhecer Literário

  • Michelly Santos

    Oi Jason!
    Fico feliz que tenha gostado do post!
    Como falei no texto, amo romances de formação mesmo antes de saber que tinham essa denominação!
    Também fiquei vidrada no Morro quando estava lendo. Ele é hipnotizante, maravilhoso!
    Falta só A Senhora de Wildfell Hall e Shirley para eu terminar de ler os romances delas publicados no Brasil. Do ano que vem não passa!
    Beijos!

  • Jason Bertinelli

    Olha seu post foi muito informativo para mim, eu sinceramente não sabia que existia uma denominação para esse tipo de história que acompanha o desenvolvimento do personagem, mas ja anotei aqui para não esquecer. 😉
    Eu particularmente amei os dois livros que li das irmãs Bronte, e O Morro dos Ventos Uivantes é um dos meus livros favoritos da vida toda, o tanto que sofri e me desesperei com esse livro não foi pouco, foi um dos livros que simplesmente não consegui soltar ate terminar, simplesmente ignorei qualquer coisa ao redor de mim nessa leitura.
    Pretendo ler todos os livros das irmãs, por que ja sei que vale a pena.
    xoxo

    Planeta 94

  • Michelly Santos

    Oi Mi!
    Pq vc não gosta da Emily? Fiquei curiosa!
    Jane Eyre é maravilhoso, né?! Lembro de querer ler devagar pra não acabar mas não consegui me controlar e acabei bem rápido. Já li Villette, da Charlotte tb e é ótimo, mas ainda prefiro Jane Eyre. Agora estou esperando Shirley entrar em promoção pra comprar tb!
    Eu acho que ninguém resiste às Brontë, viu?! kkkkk
    Beijos!

  • Michelly Santos

    Oi Vanessa!
    Verdade! Vc me lembrou das obras poéticas delas que eu não coloquei no post. Tem o primeiro livro publicado delas tb que foi uma reunião de poemas das três, em 1846. Eu deveria ter citado, né?! :/
    Ainda não assisti As Irmãs Brontë, estou tentando achar em boa qualidade já que não tem na Netflix… hehe
    Beijos!

  • Michelly Santos

    Oi Carol!
    Eu assisti Jane Eyre assim que terminei de ler mas, como sempre, o livro é muuuuuiiiito melhor! hehe
    O Morro realmente foge um pouco do clima das obras de Charlotte e Anne. Emily escreveu uma história bem mais sombria, mas garanto que é tão maravilhosa quanto!
    Mas se não é muito seu estilo, não tem problema. Leia as outras duas irmãs que vc vai amar!
    Beijos!

  • Vanessa Vieira

    Gostei do post Michelly. Eu também sou apaixonada pelas Irmãs Brönte, especialmente pela obra O Morro dos Ventos Uivantes, que ao lado de Orgulho e Preconceito, figura entre os meus livros favoritos de toda vida! Não sei se você assistiu, mas recomendo muito o filme As Irmãs Brontë, que fala um pouquinho mais sobre Charlotte, Anne e Emily o seu relacionamento com o irmão Branwell. Estou cruzando os dedos para que alguma editora se aventure em publicar O Professor, já que é uma obra bem interessante e que me chama bastante a atenção. Quanto à Emily, tem um livro de poemas dela chamado O Vento da Noite que foi publicado aqui no Brasil e que parece ser maravilhoso! Beijo!

    http://www.newsnessa.com

  • Michelly Santos

    Oi!
    O blog, em si, não é novo, mas eu dei uma repaginada e voltei com uma proposta diferente. Aí apaguei os posts antigos pra recomeçar do zero. Por isso só tem arquivos de outubro e novembro. Tem um post que eu explico mais sobre essa mudança, ele chama "A transformação de uma leitora". Dá uma olhada lá depois, se te interessar! 😉
    Beijos!

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