Dedo de prosa

Sobre a obrigação de gostar de um livro

Recentemente comentei aqui no blog sobre autores que conheci no ano passado, e entre eles estavam Jorge Amado e Umberto Eco, cujos livros não me conquistaram. Isso retomou uma reflexão antiga sobre a obrigação que muitos leitores sentem de gostar de um livro, seja por ser um clássico, seja porque todo mundo está lendo e gostando.
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Eu me vi nessa situação quando terminei de ler O Nome da Rosa e não gostei. Já me senti mal porque sabia que era um livro cultuadíssimo, e a situação piorou quando fui procurar resenhas e não encontrei ninguém que não tenha, no mínimo, amado. Aí pensei o quê? O problema sou eu.
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Pode parecer bobeira, mas pra uma apaixonada por literatura como eu, o fato de ter chegado à essa conclusão afetou até minha autoestima, visto que me vi como alguém incapaz de enxergar a beleza numa obra onde todo mundo concordava que existia. E quando me vi em meio àquela reflexão bem idiota, do tipo, “não tenho capacidade de ler clássicos”, fui resgatada por meu marido, que me mostrou quantos deles eu já havia lido e amado. Precisou dele me lembrar que um de meus livros preferidos, por exemplo, é um clássico de George Orwell, 1984.
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Não sou dramática, nem tenho muita paciência pra pessoas assim. Também não sou de me sentir pressionada a ser ou agir conforme as expectativas de outras pessoas. Mas tenho um probleminha. Eu mesma me pressiono intelectualmente, se posso dizer assim. Sempre acho que posso aprender mais, desenvolver melhor o raciocínio, somar mais conhecimento. Acho que por isso fiquei tão abalada pelo simples fato de não ter gostado de uma leitura.
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Mas passou, e foi rápido. Acordei pra vida e percebi o óbvio: não somos obrigados a gostar de algo só porque “todo mundo” gosta. Não sou obrigada a concordar que um livro é incrível se, pra mim, não funcionou.

Posso, por exemplo, amar George Orwell, mas é importante que eu saiba que ele não é perfeito. Ninguém é. Então sempre terá alguém que não vai gostar de seus livros, da mesma forma que não gostei de Eco, da mesma forma que Capitães da Areia foi o pior livro do ano pra mim, da mesma forma que não tenho certeza com relação ao que sinto sobre Outlander (conversarei sobre isso com vocês em breve).

E aí eu volto lá num post que fiz sobre clássicos, onde aconselho os leitores a não se deixarem intimidar perante um livro. Para saber se você gosta dele, você tem que ler. Não há outro jeito. E se você não gostar, tudo bem, tem milhares de obras por aí que se encaixarão melhor no seu gosto. E, convenhamos, é uma delícia abrir esse imenso cardápio literário e saber que somos livres para experimentar tantas histórias e que temos capacidade de formar nossa própria opinião sobre cada uma delas.

12 Comentários

  • Michelly Santos

    Oi Ozzy!
    Que bom que pelo menos o celular está resolvido. Tenho certeza que em breve vc estará com o note tb.
    Hoje em dia estou tranquila com relação a não gostar de livros cultuados, acho até que esse desabafo me ajudou a superar isso! 🙂
    Fiquei feliz em te ver por aqui de volta, vc é sempre muito bem-vindo! E obrigada pelo apoio de sempre!
    Beijos!

  • Ozzy

    Ola Michely, tudo bem?
    Eu sou o Ozzy do blog planeta 94, andei sumido daqui por que perdi meu notebook e meu celular, so agora consegui um celular para voltar a acompanhar os blogs que gosto (mas sabe-se la quando vou conseguir pegar o notebook para voltar a postar no blog T.T)
    Enfim, eu entendo o que diz de ficar se perguntando, e as vezes se culpando por nao amar um livro que e amado por TODOS, ainda mais quando esse livro é um classico da literatura, ou de um autor muito conceituado, mas hoje encaro essa situaçao de uma mneira diferente, como ja disse em uma outra postagem daqui, a literatura, como toda forma de arte, é subjetiva, e por isso um livro que eu achei incrivel pode ser terrivel para voce, por que cada um aprecia e "digere" o conteudo de maneira diferente.
    Adorei o post, vou continuar por aqui lendo e comentando os outros para ver o que perdi nesse tempo longe, mas pelo que ja vi o conteudo continua tao bom quanto da ultima vez que estive aqui.
    xoxo

  • Michelly Santos

    Oi Dora!
    Não vi o filme ainda mas tenho a impressão de que vou gostar bem mais do que do livro. Minha experiência foi parecida com a sua, na hora da investigação eu ficava interessada. O problema é que essas partes são minoria durante a narrativa… :/
    Hoje eu tb amo clássicos, mas como vc falou, não somos obrigadas a gostar de todos, né?!
    Beijos!

  • Dora Sales

    Te entendo, também não gostei tanto de O nome da rosa, apesar de amar o filme. Achei ele entediante em diversas partes e somente quando os personagens estavam de fato investigando os casos que fiquei interessada…
    Infelizmente esse medo de livros clássicos existe mesmo, acredito que essa é a razão para tantos leitores fugirem deles, particularmente gosto bastante, mas isso não significa que devo gostar de tudo ou fingir que gostei…
    Tudo bem não gostar =D

    Beijão
    Toca da Lebre

  • Michelly Santos

    Oi Jessica!
    Verdade, isso que eu tratei no texto se aplica a várias coisas, não somente aos clássicos, ou aos livros, de forma geral. E é importante que saibamos "bancar" nossas opiniões, sempre com respeito e tolerância, claro. 🙂
    Beijos!

  • Jessica Bottari

    Achei seu texto muito interessante porque muita gente tem essa sensação. Nem sempre com clássicos, mas com coisas que todo mundo gosta, em geral. Eu mesma era assim. Vivia me perguntando se o problema era eu, até que percebi que não. Gosto é algo único e fico feliz que tenha descoberto isso também. <3

    Beijos
    ohamoramia.blogspot.com

  • Michelly Santos

    Oi Isabelle!
    Tem isso das parcerias com editoras que podem influenciar nas opiniões tb, né… Eu já tive algumas parcerias, mas sempre fui sincera com relação à minha opinião. Mas é claro que a gente fica mais sem jeito de falar dos pontos negativos quando ganhamos o livro. É uma situação complicada…
    O negócio é praticar, como vc falou. Por exemplo, já não fiquei preocupada por não ter gostado de Capitães da Areia como fiquei com O Nome da Rosa. Parece que aprendi a lição! hehe
    Ótima semana!
    Beijos!

  • Michelly Santos

    Oi Biel!
    E eu nunca me esqueci o quanto vc é fofo e sempre muito carinhoso comigo! Obrigada, viu?!
    É muito ruim quando a gente fala que não gostou de um livro e a pessoa reage como se a gente tivesse confessado um assassinato, né?! :/ Às vezes a pessoa nem faz de propósito, mas, por causa das nossas próprias cobranças, acabamos nos sentindo mal.
    De qualquer forma, acho que concordamos que o melhor é levantar, sacudir a neura e dar a volta por cima! hehe
    Beijos!

  • El Costa

    Eu nunca me esqueci sobre o quanto você escreve bem. Amei ler esse texto e consegui me identificar.
    Algumas vezes eu passei por essa barra de não ter gostado de um livro que todos gostaram, já até fui crucificado, inclusive por alguns outros bloguiros. Mas eu sempre tive isso em mente, que não sou obrigado a gostar porque todos gostaram, mas confesso que também me senti mal, porque eu também me "pressiono" intelectualmente.
    Mas "convenhamos, é uma delícia abrir esse imenso cardápio literário e saber que somos livres para experimentar tantas histórias e que temos capacidade de formar nossa própria opinião sobre cada uma delas."

  • Isabelle Brum

    Olá Michelly, bom dia.
    Amei sua reflexão,
    Nós, enquanto leitores e leitoras, não temos mesmo obrigação de gostar de uma leitura só porque meio mundo ama, até porque infelizmente algumas opiniões são escritas apenas para agradar autores ou editoras. Mas enfim, ter essa autoconsciência sobre sermos "obrigados" a gostar de algo (seja livro, filme, série…) ou não é uma tarefa não muito fácil e que precisamos praticar sempre, e fico super feliz que você tenha conseguido chegar a essa conclusão *-*
    Beijinhos, boa semana e boas leituras ^-^
    Isabelle – Attraverso le Pagine

  • Michelly Santos

    Oi Kelly!
    Você foi certeira no seu comentário. O lance é ser sincera consigo mesma e aceitar que você tem opinião própria, pode gostar ou não de qualquer coisa. 🙂
    Beijos!

  • Kelly Oliveira

    Oi Michelly, boa reflexão.

    Quanto a leitura (e tudo mais) eu tento ser o mais sincera comigo mesma, no sentido que você citou, mas também no sentido inverso, quando todo mundo fala mal de um livro (e ele pode ser até ruim mesmo) e me ocorre de gostar.

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