Sagas e coleções

A Crônica do Matador do Rei

Sei que não são todos os leitores que caem de amor por literatura fantástica, mas se você é um dos que torcem o nariz para esse tipo de livro, peço que me dê pelo menos uma chance de te apresentar A Crônica do Matador do Rei, uma fantasia épica maravilhosamente escrita por Patrick Rothfuss.

Nas mais de 1.600 páginas já publicadas acompanhamos a trajetória de Kvothe, contada por ele mesmo. Nosso herói está vivendo em Nalgures, atendendo pelo falso nome de Kote, dono da hospedaria Marco do Percurso, quando o Cronista chega na cidade e o reconhece. Depois de alguma insistência por parte do contador de histórias, Kvothe decide revelar a sua, mas avisa que levará três dias para finalizá-la. Nem mais, nem menos. O Cronista aceita as condições e Kvothe começa, então, a narrar sua surpreendente e cativante vida.

Aqui vale uma observação. Uma confusão comum que os leitores fazem é sobre esses tais três dias. A narrativa não se passa em apenas três dias. Esse é apenas o tempo que Kvothe irá levar para contar sua história, e cada volume da trilogia representa um desses dias.

Sim, a história de Kvothe está prevista para ser uma trilogia, contudo, até o momento não temos notícias do terceiro livro. Na foto que ilustra esse post temos os dois primeiros volumes e um conto focado numa das personagens mais peculiares da saga principal. O texto desse conto é profundamente filosófico, exala poesia e sensibilidade e, inclusive, mostra o quanto Rothfuss é eclético enquanto escritor, visto que ele traz uma narrativa bem diferente da saga principal. Todavia, aconselho fazer essa leitura depois de ler os dois primeiros volumes da série.

Mas você deve estar se perguntando: tá, vamos ao que interessa, por que mesmo eu deveria ler esses livros?

A Crônica do Matador do Rei pertence à alta fantasia, subgênero cuja fórmula foi estabelecida por Tolkien, com o lançamento de O Senhor dos Anéis. Basicamente, a alta fantasia abarca as histórias que possuem um mundo próprio, com seus próprios sistemas políticos e sociais. Pois Rothfuss foi tão convincente na criação de seu mundo que é difícil aceitar que ele não existe, de fato. Durante a leitura, podemos sentir a tensão que existe todo tempo em Tarbean, o cheiro de livros e poeira do Arquivo da Universidade e até o deslumbramento que Denna desperta em Kvothe. É tudo tão bem escrito que se torna palpável.

E aí já temos o primeiro motivo para dar uma chance à essa saga: a competência incontestável do autor, cuja escrita forte e bela nos cativa e entretém, sempre mantendo um alto nível literário. A história, em si, é empolgante, tem um quê de mistério e nos desperta vários sentimentos contraditórios. É um livro com um vocabulário um pouco mais trabalhado, mas de fácil compreensão. A leitura flui.

Também podemos dizer que Rothfuss está escrevendo um belo romance de formação, visto que essa saga trata-se da trajetória de crescimento e evolução de um personagem. Temos Kvothe criança, Kvothe marginalizado, Kvothe universitário, Kvothe construindo sua fama. Acompanhamos seus passos em todos os níveis, da mesma forma que os grandes romances de formação da história da literatura.

Outro ponto interessante é o fato de a narrativa ser dividida entre passado e presente. Mas o presente não serve apenas para Kvothe narrar sua trajetória. Enquanto ele faz isso, outros acontecimentos vão delineando a história, deixando claro que as aventuras do personagem ainda não chegaram ao fim.

E se você se incomoda com livros pouco realistas, não se preocupe. A Crônica do Matador do Rei, apesar de ser uma fantasia, utiliza muitos elementos da vida real e não traz soluções mágicas para todos os problemas no decorrer da trama. Até o sistema de magia aqui é algo estudado e desenvolvido, como um tipo de ciência, e não como uma mágica pura e simples. Graças à esse aspecto, inclusive, esse não é um universo sem regras. Existem limites para o alcance da magia, o que é importante para que o leitor fique com aquele frio na barriga quando sente os personagens em risco e percebe que, sim, o pior pode acontecer.

E se você ainda não está convencido, resta dizer que a história de Kvothe agrada a todos os tipos de leitor. Tem humor, aventura, filosofia, lições de moral, histórias de amizade, romance, aventuras sexuais, mistério, drama, enfim, uma salada de elementos que fazem desta, uma obra imperdível. Leiam.

6 Comentários

  • Michelly Santos

    Oi Rudi!
    Fico tão orgulhosa quando vc diz que leu O Nome do Vento por causa da minha indicação! 🙂 Tomara que muitas pessoas sigam seu exemplo e leiam tb! hehe
    Eu só vou reler quando o Rothfuss anunciar o terceiro, assim como farei com Guerra dos Tronos quando o Martin anunciar o sexto.
    A edição comemorativa americana, né?! Essa eu vi! Coisa mais maravilhosa! Alguma dúvida que eu quero?!
    Beijos!

  • Rudi

    Falar mais o que depois disso dona Michelly? O Nome do Vento foi o responsável por eu me entregar à alta fantasia, e você a responsável por eu lê-lo, ainda não li o segundo volume porque ainda não saiu o terceiro, mas já tem algum tempo que estou ensaiando reler o primeiro, viu a edição comemorativa de dez anos que saiu? Eu estou babando nela

  • Isabelle Brum

    Olá, boa tarde.
    Adorei saber sua opinião sobre esta trilogia – minha vontade de ler ela acabou de aumentar!
    Sou muito fã de fantasia, sendo meu tipo de leitura favorito, e saber o modo como esta história é desenvolvida me agradou mais ainda. Espero poder ler em breve.
    Beijinhos e obrigada pela dica de leitura!
    Isabelle – Attraverso le Pagine

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