Literatura descomplicada

Barroco

Como já mencionamos ao falar sobre o Quinhentismo, o século XVII chegou trazendo inovações ao cenário artístico e cultural do Brasil, o que culminou também em uma mudança no que diz respeito às características que passaram a dominar a literatura.
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Com o advento da Reforma Protestante, a Igreja Católica se viu obrigada a reagir para reconquistar espaço, dando ensejo à Contrarreforma. Começava, assim, um período marcado pelo conflito religioso e pelo pensamento filosófico acerca de nossa existência, onde o antropocentrismo (o homem no centro do universo) cedia lugar ao Teocentrismo (Deus no centro do universo). Com isso, o homem passou a viver um dilema entre a vontade de usufruir dos prazeres mundanos e a busca pelo perdão de seus pecados.
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Além dessa dualidade, haviam também duas correntes que influenciavam enormemente a literatura barroca. Uma delas é o Cultismo, ou Gongorismo, a qual foca no próprio texto determinando o uso de construções e vocabulário rebuscados. A segunda corrente é o Conceptismo, ou Quevedismo, onde o foco reside nas ideias, privilegiando a linguagem conotativa a fim de propor discussões mais complexas.
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Também são características do Barroco no Brasil a filosofia sobre o fluir do tempo, a presença de tensão devido ao conflito entre fé e razão, angústia existencial e preocupação com a morte.
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As primeiras manifestações literárias dessa escola ocorreram na Bahia e seu marco é o poema Prosopopeia, escrito por Bento Teixeira em 1601.
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Vale frisar que, mesmo sendo produzido em terras tupiniquins, os movimentos literários no período colonial sofriam forte influência europeia. Contudo, muitos estudiosos consideram o Barroco como sendo nossa primeira escola literária, visto que foi nesse período que as produções começaram a ter uma estética mais adaptada à realidade brasileira, o que não ocorreu no Quinhentismo, por exemplo, o qual, como vimos anteriormente é considerado por muitos apenas como um momento literário.
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Entre os expoentes do Barroco destacamos Gregório de Matos Guerra na poesia e Padre Antônio Vieira na prosa. A obra de Gregório de Matos se divide em lírica, religiosa, erótica e satírica, sendo que sua ironia foi responsável por lhe render a famosa alcunha de Boca do Inferno. Já o Padre Antônio Vieira ganhou evidência por seus sermões nos quais muitas vezes criticava os colonos portugueses, o protestantismo e vertentes do próprio catolicismo. Vieira foi intitulado imperador da língua portuguesa por ninguém menos que Fernando Pessoa.

Reinando absoluta por mais de um século e meio, a escola barroca cedeu lugar ao Arcadismo, o qual tem seu marco em 1768 com o poema Obras, de Cláudio Manuel da Costa. Mas isso é assunto para o próximo post da série Literatura Descomplicada. Por hora, espero que tenham gostado de saber um pouco mais sobre sobre o Barroco brasileiro, um de nossos períodos mais ricos, não só na literatura – que é o foco aqui – mas em todas as outras formas de expressão artística.

Veja também os posts anteriores do projeto Literatura Descomplicada:

1. Uma questão de gênero
2. As escolas literárias
3. Quinhentismo

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