Literatura descomplicada

Uma questão de gênero

Para entendermos a questão dos gêneros literários, é necessário que se faça a prévia distinção entre gênero literário e gênero textual. Enquanto gênero literário diz respeito apenas às produções literárias, o gênero textual abrange qualquer texto que possua a capacidade de comunicar algo. Logo, a narração, a descrição e a dissertação são gêneros textuais, assim como também o são a piada, a bula de remédio, os manuais, as receitas culinárias, além de inúmeros outros exemplos. Já o gênero literário foi dividido por Aristóteles, ainda na Grécia Antiga, entre lírico, dramático e épico, e é a partir dessa divisão que começaremos a estudar literatura.
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Lírico
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O gênero lírico está ligado à poeticidade, mesmo não se apresentando necessariamente na forma de um poema (apesar de essa ser a principal), visto que podemos encontrar lirismo na prosa também. O foco aqui são os sentimentos, seja amor, ódio, frustração ou qualquer outro que transmita subjetividade.
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A voz que declama esse texto é chamada de eu-lírico, ou seja, o eu-lírico é para o gênero lírico o que o narrador é para o gênero narrativo. Importante: o eu-lírico só existe no texto, o que significa dizer que ele não é o poeta, mesmo que às vezes represente seus sentimentos.
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Dentro do lirismo, existem alguns subgêneros os quais são importantes que você conheça. São eles:
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Elegia: intimamente ligado à morte, tendo como característica principal o tom de lamento.
Epitalâmio: feito para celebrar o casamento, a união de um casal.
Idílio ou écloga: focam na relação com a natureza ou em eventos pastoris, normalmente apresentando um diálogo.
Ode: feita para exaltar algo ou alguém. Quando essa exaltação é direcionada à pátria ou à alguma divindade, chamamos de hino.
Sátira: lança mão da ironia para fazer uma crítica.
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Dramático
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O gênero dramático é aquele feito para ser encenado, dramatizado. Suas características principais são ausência de narrador, alternância de falas, referências aos cenários e figurinos e rubricas de interpretação (orientações para os atores sobre a forma de proceder no palco).
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Assim como o lírico, o gênero dramático também tem suas subdivisões, que são:
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Auto: é a peça satírica que busca inferir uma moral, normalmente de caráter religioso.
Comédia: caracteriza-se, principalmente, pela crítica aos costumes através do humor.
Farsa: usa o humor apenas com a intenção de divertir a plateia, sem tentar fazer críticas ou apresentar uma moral.
Ópera: passeia por qualquer assunto (tragédia, comédia…) porém as falas são sempre cantadas.
Tragédia: enredo sério que foca no embate indivíduo versus destino, buscando promover a catarse (impacto que provoca a identificação do espectador com o que está sendo apresentado no palco).
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Épico
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O gênero épico narra feitos heroicos ou históricos. Quando está no formato de poema, é chamado de epopeia. Com o tempo, o épico se desdobrou no que temos hoje como a narrativa moderna, a qual não tem mais o compromisso de exaltar o herói e privilegia a prosa.

A narrativa pode se apresentar como:

Conto: é uma narrativa limitada, com começo meio e fim, que tem um único conflito com poucos personagens.
Crônica: tem as mesmas características do conto porém a crônica trata de fatos cotidianos com a intenção de promover uma reflexão ou criticar algo.
Fábula: é uma história curta cujos personagens são, na maioria das vezes, animais e traz uma lição de moral como conclusão. Quando essa história traz personagens humanos, chamamos de parábola.
Novela: menos longa que o romance e maior que o conto, esse texto narra vários conflitos focados em um mesmo personagem.
Romance: é um texto longo composto por vários personagens e vários conflitos que se desenvolvem de forma simultânea. O romance se subdivide em vários outros gêneros, que são aqueles que os leitores geralmente se referem ao tratar de gênero: romance romântico, terror, fantasia, romance policial, entre tantos outros.

A seguir preparei um organograma para sintetizar as informações acima e talvez ajudar estudantes ou interessados em teoria literária. Sintam-se à vontade para salvar a imagem e repassá-la, só não se esqueçam de citar a fonte, certo?!

 

16 Comentários

  • Ozzy

    Ola,
    Adorei a ideia de passar seus conhecimentos de teoria literaria adiante,parabens!
    Vou ficar de olho aqui para os proximos posts (provavelmente ja deve ter algum outro por aqui que nao vi haha)

    xoxo

  • Michelly Santos

    Oi Sil!
    Acho que todos nós acabamos por tratar como gênero apenas os subgêneros do romance mesmo, tanto pq é a forma mais popular de se classificar os livros, né?!
    Mas que bom que vc gostou do post! 🙂
    Beijos!

  • Sil

    Olá, Michelly.
    Eu acho que aprendi isso na época da escola mas confesso que pouco me lembro hehe. Hoje em dia o povo fala mais sobre os subgêneros do romance hehe. Excelente postagem.

    Prefácio

  • Michelly Santos

    Oi Leslie!
    Também gosto das sátiras, mas confesso que dentro do gênero lírico tenho uma preferência pela elegia. Mas juro que sou uma pessoa feliz e extrovertida, apesar disso, tá?! 🙂
    É sempre bom saber que estamos fazendo algo útil, que esclarece algo ou soma conhecimento. Lógico que sei que esse projeto é só um grãozinho de areia, mas o apoio de vocês vale muito. Obrigada!
    Beijos!

  • Michelly Santos

    Oi Miriã!
    Essa divisão de gêneros que demonstrei aqui é aquela para fins acadêmicos, definida por Aristóteles. Muitos de nós confundimos ela com a subdivisão do romance, que nesse caso não se trata de livros românticos, mas sim um texto longo com as características que falei no post. Sendo assim, aquilo que chamamos popularmente de gêneros, ou seja, o romance romântico, a fantasia, o romance policial, o suspense, a distopia e tantos outros, são apenas ramificações.
    Sobre o teatro, na época de Aristóteles eram mais comuns a tragédia e a comédia, tanto que aquelas máscaras que simbolizam o teatro são uma rindo e outra triste, mas eles não eram únicos, também existiam expressões dos outros tipo dramáticos.
    Fico feliz que vc tenha gostado do post, espero que continue acompanhando o projeto!
    Beijos!

  • Miriã Mikaely

    Oi, Michelly
    Esses gêneros pra mim são bem estranhos, acho que vejo as obras de outra forma, mas se a gente for pensar no teatro naquela época, só existia ou a comédia ou o drama, então imagino que seja por causa dessas definições. Achei legal entender um pouco mais sobre Literatura, até porque eu gosto mas não tenho conhecimento a respeito de nada.
    Beijos
    http://www.suddenlythings.com/

  • Leslie Leite

    Me lembro de ter estudado sobre o assunto no Ensino Médio, me lembro também que os textos apresentados pelo professor de literatura que mais me chamavam atenção eram as sátiras.
    Legal saber mais sobre as divisões da narrativa, eu mesma não sabia do que se tratava uma novela.
    Post super informativo!
    Beijo, http://www.apenasleiteepimenta.com.br

  • Michelly Santos

    Oi Isabelle, obrigada! 🙂
    Esse assunto pode ser meio confuso mesmo. Além dos filme que vc citou, temos que estar atentos também às próprias subdivisões dentro de cada gênero literário. Aí vira uma salada! hehe
    Espero que vc continue acompanhando e gostando!
    Beijos!

  • Isabelle Brum

    Olá Michelly 😀
    Amei seu post/mini aula de Literatura (teria me ajudado bastante na época da faculdade ^^').
    Essa questão dos gêneros sempre confunde um pouquinho mesmo, ainda mais se compararmos aos gêneros dos filmes; por isso posts assim são muito úteis e importantes. Parabéns!!!

    Beijinhos e bom fim de semana.
    Isabelle – Attraverso le Pagine

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