Resenhas

Sonho Febril

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George R. R. Martin ficou mundialmente conhecido ao ter sua saga A Song of Ice and Fire (As Crônicas de Gelo e Fogo) adaptada para uma série de TV (Game of Thrones, no canal HBO). Mas não é de hoje que o autor surpreende os leitores com histórias criativas e muito bem escritas.

A carreira literária de Martin teve início na década de 70, quando ele escrevia contos de ficção científica. Em 1977 foi publicado seu primeiro romance, A Morte da Luz (Dying of the Light), e em 1982 chegava às livrarias sua história de vampiros, Sonho Febril (Fevre Dream).

Se você gosta de vampiros raiz, esse livro é pra você.

Logo no início somos apresentados a Abner Marsh, um capitão cuja companhia está à beira da falência depois de ter perdido seus melhores barcos. Mas qual não é sua surpresa e alívio quando o misterioso Joshua York o procura propondo uma sociedade com o objetivo de construir a melhor e mais veloz embarcação de todo o Mississipi. Contudo, essa proposta tem uma condição: Abner não deverá questionar as ordens e hábitos de Joshua, por mais estranhos que esses lhe pareçam.

Okay. Mesmo achando tudo muito esquisito, o capitão resolve aceitar a proposta, nascendo assim o Sonho Febril, um barco magnífico e muito superior a seus concorrentes.

Acontece que o ser humano é uma criatura curiosa, e vai ficando cada vez mais difícil para Marsh relevar as peculiaridades da vida de seu sócio. Assim, ele acaba não conseguindo cumprir sua palavra e vai atrás de explicações, quando, então, descobre que o Sonho Febril pode se tornar, na verdade, um pesadelo.

Veja bem. Minha intenção aqui é apenas despertar em vocês a curiosidade por essa história, portanto qualquer outra coisa que eu diga sobre o enredo pode estragar as surpresas que vocês irão encontrar. Mas confiem em mim: Sonho Febril é tão incrível quanto as outras obras do autor.

Como eu já esperava, os vampiros retratados em Sonho Febril têm sua base moldada pelas características tradicionais dessas criaturas, como o fato de terem hábitos noturnos, queimarem no sol e serem acometidos de uma sede animalesca por sangue. Por outro lado, o autor lançou mão de sua criatividade e também trouxe características bastante originais para esses personagens. Essa junção entre clássico e autoral foi feita na dose exata para criar personalidades complexas, que nos intriga e nos deixa ávidos para saber quais serão seus próximos passos.

Também é interessante observar como os dois vampiros de maior relevância para a trama tiveram construções completamente diferentes. Enquanto Joshua é complexo e precisa lidar com um dilema interno que influencia diretamente o seu comportamento, Damon Julian é visceral, cruel e desprovido de qualquer resquício de humanidade. Ele entende e aceita sua natureza, é totalmente livre de conflitos internos e não demonstra nenhum constrangimento com quaisquer de suas atitudes. E é aí que Julian se torna um dos raros personagens que me despertaram medo de verdade, um sentimento tão difícil de ser alcançado na literatura.

A ambientação tanto do barco quanto nos outros cenários é feita de forma minuciosa, trazendo o leitor para dentro da história. Sangue e violência recheiam as páginas dessa obra que demonstra claramente a perícia de George Martin enquanto escritor. Cenas de ação intercaladas com outras mais descritivas dão o tom ideal para uma leitura fluida e que prende nossa atenção, onde cada página traz uma surpresa, ou uma nova informação, ou uma reviravolta, ou uma revelação…

Com um texto rico e de qualidade, Sonho Febril tem tudo para ser reconhecido no futuro como um dos grandes clássicos do terror, essencial não só para os fãs do tema mas para todos os amantes da boa leitura.

Autor: George R. R. Martin
Editora: LeYa
Nota: 5/5

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