O Vale do Medo
Escrito por Sir Arthur Conan Doyle em 1915, O Vale do Medo é o último dos quatro romances que trazem como protagonista o detetive Sherlock Holmes, e talvez seja o mais brilhante deles.
Nesse caso, Sherlock é chamado para investigar a morte de um homem que vivia isolado com sua esposa e pouquíssimos funcionários. O corpo foi encontrado com o rosto completamente desfigurado dentro de sua própria casa que, por sinal, era uma fortificação antiga de difícil acesso, inclusive tendo um fosso ao redor da propriedade.
A exemplo de Um Estudo em Vermelho, primeiro romance do personagem, O Vale do Medo também é dividido em duas partes, sendo que a primeira delas fica a cargo da investigação e é onde vemos a grande contribuição de Sherlock.
Já num segundo momento, a narrativa passa a relembrar acontecimentos do passado que se mostram importantes na solução crime. O que o leitor pode esperar aqui é uma história à parte dentro da história que já está sendo contada, quando somos apresentados e acompanharemos um novo personagem até o grand finale. Sherlock sequer participa dessa fase, já que ela se passa há muitos anos atrás e nos EUA.
“O morto estava estendido de costas, com os membros esticados, no centro do escritório. Estava vestido apenas com um roupão rosado que encobria suas roupas de dormir. Havia chinelos de feltro nos seus pés descalços. […] Ao lado do seu peito, estava uma arma curiosa, uma espingarda com os canos serrados perto dos gatilhos. Estava claro que ela fora disparada de perto, e que ele recebera o tiro no rosto, reduzindo a cabeça quase a pó.” – Pág. 328
Mas não pense que o texto fica menos fluido por causa dessa quebra brusca de foco na trama, pelo contrário, Conan Doyle foi bastante competente em fazer com que as duas partes se complementem, apresentando um panorama muito bem construído da história. E mesmo depois de tantas surpresas e reviravoltas, o autor nos brinda com um final, no mínimo, inesperado.
Sir Arthur Conan Doyle gostava de propor reflexões sobre algumas questões da época em que as histórias de Sherlock Holmes foram escritas, e esse livro não foge à regra. O mistério apresentado no romance faz menção a uma facção criminosa que agia nos EUA no século XIX, conhecida como Molly Maguires.
Sabendo disso, percebemos que o “medo” presente no título da obra, é algo tangível. Não é o medo de algo sobrenatural, como em O Cão dos Baskerville, mas sim o medo da maldade dos homens, algo muito mais próximo de nós. A narrativa foi construída de forma que a tensão vai aumentando página a página, fazendo até com que o leitor se choque com a descrição de algumas situações extremamente violentas.
“- Se o senhor chama isso de crime…
– McMurdo respondeu. – Chama de crime! – Morris gritou, sua voz tremendo de raiva. – O senhor ainda não viu nada, se é que pode dar outro nome a isso. Foi crime ontem à noite um velho, que poderia ser seu pai, ser espancado até que seus cabelos brancos ficassem vermelhos de sangue? Foi crime ou o senhor chamaria de outra coisa?” – Pág. 428
Além disso, também foi nesse romance que o autor obteve maior sucesso na criação de personagens multifacetados, os quais levam o leitor à conclusões equivocadas. Isso ganha mais importância quando, ao analisarmos as outras obras de Conan Doyle, percebemos que seus personagens hora ou outra deixam transparecer suas reais intenções, o que não acontece em O Vale do Medo.
A tradução da obra ficou a cargo de Luiz Orlando C. Lemos, e a edição da HarperCollins traz, além desse romance, o livro de contos A Volta de Sherlock Holmes. Você também encontra essa história com o título de O Vale do Terror em outras edições.
O último romance de Sherlock Holmes é uma oportunidade deliciosa para o leitor que ama a união certeira entre mistério e uma boa dose de perspicácia. Se já vale a pena conhecer a obra apenas pela presença de seu famoso protagonista, imagina se levarmos em conta a possibilidade de nos aprofundarmos no imaginário de seu criador.
O Vale do Medo é a prova definitiva que Sir Arthur Conan Doyle é ainda maior que sua criação e merece ser lido pelo que representa para a literatura, inclusive tendo criado um Sherlock tão real que é difícil assimilarmos que é apenas parte da criatividade desse grande mestre.
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Autor: Sir Arthur Conan Doyle
Editora: HarperCollins
Nota: 5/5
4 Comentários
Maria Eduarda de Paula
Onde se passa a historia(cenario)?
O narrador é personagem ou é observador?
Essa história acontece no presente,passado ou no futuro?
Quais os nomes de todos os personagens?
Michelly Santos
Olá Maria Eduarda! Tudo bem?
A primeira parte se passa na Inglaterra, no tempo presente e é narrada pelo Watson (narrador personagem). Já a segunda se passa no passado dos EUA (eu até citei isso na resenha!) e o narrador é onisciente. Já os personagens são vários, nesse caso o melhor é você ler a obra! Garanto que será divertido!
Thalita
Achei bem interessante!
Beijos,
http://www.thalitamaia.com
Michelly Santos
Que bom, Thalita!
Beijo!