Resenhas

Bellefort

Victor Marques é um autor brasileiro que lançou recentemente seu primeiro romance. Bellefort, como o próprio autor afirma logo no início de sua história, vai investigar a natureza humana ao mesmo tempo em que presta uma homenagem a uma de suas grandes inspirações: Agatha Christie.

Através de uma narrativa não linear, o leitor acompanha a rivalidade entre duas atrizes totalmente diferentes entre si, exceto pelo fato de serem irmãs. Betty Bellefort é uma veterana que não passa por um bom momento profissional. Joan Bellefort é uma jovem atriz com uma carreira promissora pela frente.

A escolha pela forma com que ambas são apresentadas foi extremamente inteligente pois deixa claro que estamos diante de dois lados da mesma moeda. Na primeira aparição tanto de Betty quanto de Joan, elas estão interpretando a cena de um filme, mas enquanto a primeira esquece falas e não consegue terminar, a segunda faz seu trabalho rápida e eficientemente.

Mas as divergências entre essas duas mulheres não se prendem apenas à diferença de idade de quase vinte anos ou ao momento profissional de cada uma. Também não é preciso dizer, literalmente, que estamos diante de um antagonismo perigoso pois isso fica implícito na narrativa de uma forma muito mais interessante.

Victor faz com que as protagonistas se contraponham nos detalhes, o que reafirma ao leitor, inconscientemente, a rivalidade entre elas. Uma é loira, outra é morena. Uma mora numa casa simples, outra numa mansão. Uma precisa pegar um vestido “emprestado” para uma premiação, outra tem um closet inteiro para escolher qual vestido quer usar. Uma tem um gato, a outra tem uma cobra de estimação.

“Sim, a natureza humana é mesmo muito curiosa. Tanto é que, enquanto para uns as grandes novidades modernas são objeto de desejo, para outros, o novo é sempre pior.
E é nessa dualidade que se encontrava o galpão do velho Ernst, um ano após o fim da segunda grande guerra. Era a época em que ele encontrava segurança para viver dias melhores e investir.”

A decadência de Betty em face a ascensão de Joan é insuportável para a irmã mais velha, que simplesmente não aceita o curso natural da vida, onde os mais jovens acabam substituindo os mais velhos, sobretudo numa indústria onde a aparência é supervalorizada. Um dos pontos onde essa “não aceitação” fica clara é quando Betty insiste em interpretar uma personagem vinte anos mais jovem, ou seja, da idade da irmã, que é a atriz escalada para o papel.

Mas Bellefort vai além das discussões sobre idade e rivalidade. O grande clímax da trama só é possível graças à influência da mídia na vida dessas pessoas, o que é um outro elemento inserido por Victor que também provoca reflexões muito pertinentes.

Curioso que, mesmo sendo esse um livro ambientado na década de 40, a discussão sobre o escrúpulo – ou a falta de – da mídia é bastante atual. Uma manchete bombástica, mesmo que fabricada, vale uma vida?

É certo que as Bellefort já nutriam sentimentos perversos entre si, mas uma jogada de marketing de uma revista, acirra essa rivalidade que toma proporções catastróficas. Numa cena digna de aplausos onde o autor nos transporta àquele momento, uma delas é assassinada, e é aí que, enfim, a primeira grande pergunta do livro é respondida.

Lembra que eu disse que essa não é uma narrativa linear? Pois a obra começa com um forshadowing que conta ao leitor que uma das Bellefort morreu, mas não diz qual. Sendo assim, a primeira parte do enredo nos mantêm presos na história em busca de pistas sobre qual delas foi a vítima, até chegar na revelação de tirar o fôlego.

“Betty fora tão acostumada a ser a única, que era estranho pensar que pela primeira vez saberia o que era ter um irmão. Apesar de tudo isso, ficou feliz, ansiosa, e até gostou quando conheceu a irmã.”

Mas se você pensa que as coisas se acalmam depois dessa descoberta, está completamente enganado. Sabemos que quando uma investigação começa, todo leitor se torna um pouco detetive, e é exatamente isso o que fazemos aqui. Victor vai inserindo os suspeitos aos poucos, antes mesmo do crime acontecer, e quando ele se dá temos algumas opções a serem trabalhadas.

Já confesso que eu errei meu palpite e fui positivamente surpreendida não só pela resolução do caso como também pela forma com que ele foi construído. As pistas estavam lá o tempo todo, a explicação é muito plausível, mas ainda assim o texto cumpre o papel de um bom romance policial, que é nos enganar.

E quando digo “romance policial”, não significa que coloco essa obra em uma só caixinha de gênero. Bellefort é, indubitavelmente, um thriller, mas também traz elementos de drama com uma forte carga emocional e discussões psicológicas, além de ser um retrato das dificuldades e preconceitos vividos pelas mulheres no mercado cinematográfico da década de 40.

Há muito mais o que eu poderia falar sobre o romance de estreia de Victor Marques, muitas subtramas e personagens interessantíssimos, mas prefiro aconselhá-los a conhecer essa história por si mesmos. Bellefort está sendo distribuído em formato digital pela Amazon, e até a presente data encontra-se disponível no Kindle Unlimited. Clicando no banner abaixo você tem acesso à essa trama eletrizante e cheia de mensagens importantes, escrita por um jovem autor brasileiro que merece, graças à competência de seu trabalho, que você lhe dê uma chance.

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