Vale ler qualquer coisa?
Então vamos falar sobre um assunto difícil e que divide opiniões: existe algum tipo de literatura tão ruim que era melhor nem ler nada?
Alguns dirão que o importante é ler, sem ressalvas. Que o que vale é despertar o interesse da pessoa pelos livros, independente do tema e da capacidade do escritor. Se tá lendo, tá bom. Outros dirão que se for pra ler livro mal escrito, melhor nem ler. Nesse grupo, há os que vão além, dividindo os livros entre bons, que normalmente são os clássicos, e ruins, que são os chick lit, jovem adulto e qualquer coisa que tenha personagens como vampiros e lobisomens.
Eu fico no meio do caminho, e é sobre minha opinião acerca desse tema que falo hoje com vocês.
Primeiro vale explicar o que me motivou a escrever sobre isso. Pois bem. Passeando pelos grupos literários que sigo numa rede social, me deparei com um muito famoso que tinha como regra a proibição de falar sobre determinados gêneros, editoras e até livros com certos tipos de personagens. Acho até que o criador do grupo tem todo o direito de determinar as regras que quiser e quem não gostar é só não seguir. Ok.
Mas o problema, o que me despertou essa vontade de falar sobre, foi o tom com que as proibições foram feitas, dando a entender que existe um tipo de literatura que não merece nem ser levada em consideração. Daí fiquei refletindo sobre qual era a minha opinião sobre o assunto, já que, por um lado, acho bastante arrogante uma pessoa determinar o que é bom ou ruim pra todo mundo, mas por outro, acredito que é importante o leitor buscar evoluir dentro da literatura que lê, assim como deve amadurecer em todas as outras áreas da vida.
Depois de pensar bastante (tanto porque eu não quero vir aqui escrever bobeiras no calor da emoção), cheguei à conclusão que eu acho que vale, sim, ler qualquer coisa, mas também não custa experimentar um tipo de literatura com mais substância.
Como já falei por aqui, eu amo os clássicos e gostaria que as pessoas quebrassem o preconceito contra eles. Porque há preconceito contra os clássicos da mesma forma que há contra os livros mais despretensiosos. Passei a maior parte da vida lendo YA e isso foi muito importante para minha formação como leitora. Mas chegou um momento que despertou em mim a vontade de me aventurar em águas mais profundas (falei sobre isso por aqui também) e esse mergulho foi ótimo para mim.
Hoje eu me sinto mais capaz de opinar sobre um texto, tenho mais facilidade de interpretação, consigo assimilar conteúdos mais profundos com maior tranquilidade, e tudo isso foi conquistado com meu amadurecimento enquanto leitora.
Mas é óbvio que não se adquire isso somente com a leitura dos clássicos. Existem livros contemporâneos maravilhosos e muito bem escritos, assim como existem livros infantojuvenis excelentes. Quem vai dizer que Harry Potter é ruim? Você pode até não agradar da história porque aí é uma questão de gosto, mas é inegável que a saga escrita por J. K. é tecnicamente muito boa. A história é complexa, bem escrita, os personagens são sólidos e bem construídos e o texto nos propõe reflexões importantes.
Quando digo que fico no meio do caminho, é justamente porque reconheço que existam livros bons em qualquer gênero ou subdivisão que a literatura possa ter, mas também acredito que ficar sempre no mesmo tipo de história não vai acrescentar muito ao leitor. Se você lê só ficção científica, por exemplo, uma hora esse gênero vai esgotar tudo o que tinha pra te ensinar, restando só o entretenimento.
Claro que se é isso o que você quer, tudo bem também. Quem sou eu pra dizer o que você deve ou não fazer. Só estou mostrando meu ponto de vista sobre o assunto mesmo, sem nenhuma intenção de ditar regras.
Enfim, esse papo é mais um desabafo mesmo. Minha intenção não é incentivar apenas a leitura dos clássicos, mas sim de todos aqueles livros que possam contribuir para seu enriquecimento intelectual, o que pode acontecer com um YA, por que não? Eu não preciso ler só Machado de Assis, mas também não preciso ler só Nicholas Sparks. Tudo na vida é questão de equilíbrio, e se aplicarmos isso em nossas leituras, acredito que seremos melhores.
Melhores no sentido de amadurecer enquanto leitor sem que, para isso, precisemos diminuir aqueles que estão num momento diferente do nosso. Algumas pessoas do grupo que citei têm o péssimo costume de fazer isso, infelizmente, mas aí cabe a nós mostrarmos a eles o que nem todos os clássicos russos que leram foram capazes de ensinar: respeite, se quiser ser respeitado.
6 Comentários
Michelly Santos
Uau, Jason!
É justamente essa participação, essa troca que eu quero aqui pro blog. Amei o comentário e muito obrigada por dar sua opinião! 🙂
Concordo com tudo o que vc falou, principalmente na parte de cada pessoa se sentir tocada por coisas diferentes. O exemplo do quadro foi bem claro para entendermos a subjetividade dessa questão.
Tem livros que eu odiei com todas as minhas forças e que quase todo mundo ama, ou seja, não dá pra impor a todos o que é bom ou ruim pra mim.
Por fim, me chamou atenção quando vc diz que "O pior é que essas pessoas sempre saem por ai pagando uma de mente-aberta não é mesmo?". É exatamente isso, parece até que vc sabe de quem estou falando… hehe
Beijos!
Jason Bertinelli
Ola,
Antes de discutir se um livro é bom ou ruim é bom levar em consideração que a escrita não deixa de ser uma forma de arte, e a arte não é uma ciência exata, por mais que existam certos "padrões" impostos pela Academia, eles nem sempre se aplicam na experiência de apreciação de uma obra.
Eu posso olhar para a série de quadros das árvores do Mondrian e achar aquilo incrível e me sentir tocado de alguma forma, e você olhar, e mesmo entendendo o significado, não gostar por que aquilo não te representa, não é de agrado ao seu gosto, ou simplesmente não te corresponde por não fazer parte de sua realidade.
Nos livros é a mesma coisa, por mais que eu não goste de livros eróticos por exemplo, não posso dizer que aquilo não é um tipo de literatura válida ou que aquilo é lixo, por que no final das contas tem gente que se identifica com aquilo e gosta por x razões, e no final eu gostar ou não do livro não vai mudar a importância que ele tem para aquela pessoa.
No meu blog por exemplo eu já detonei alguns livros que não gostei, mas essas opiniões são baseadas em uma experiência particular minha, e com certeza alguém gostou dos livros que detonei.
Hoje em dia com a tecnologia colocando todas as informações nas nossas mãos, e com a possibilidade de obter e divulgar informações como bem querer fez com que um certo grupo de pessoas se juntasse, pegasse essas regras da Academia e as seguisse como uma Bíblia para um tipo de religião cult onde gêneros como YA, literatura erótica e infanto-juvenis são uma verdadeira blasfêmia, dessas pessoas eu só sinto dó, por que estão perdendo uma experiência que é a troca de conhecimento entre pessoas diferentes que leem coisas diferentes e veem o mundo de forma diferente. E essa troca de experiências é muito benéfica para ambas as partes envolvidas.
Eu também já me deparei com grupos e pessoas com determinadas regras que você citou, é algo idiota e que não faz sentido para mim. Ninguém tem a obrigação de ter o mesmo gosto, como dizem por ai: o que seria do amarelo se todos só gostassem de azul não é mesmo? O pior é que essas pessoas sempre saem por ai pagando uma de mente-aberta não é mesmo?
Eu respondo sua pergunta com: Vale ler qualquer coisa que te agrade, se você gosta e aquilo te faz bem, você não está cometendo nenhum crime.
xoxo
Planeta 94
Michelly Santos
Oi!
Verdade. É muito importante que as pessoas entendam que todos somos diferentes e que essas diferenças devem ser respeitadas.
Como falei no post, acho legal que o leitor diversifique suas leituras, mas falo isso como uma sugestão, nunca como um julgamento. 🙂
Beijos!
Paixões Literárias
Oiie, realmente acho desnecessário isso, porque toda leitura é válida, independentemente do gênero. Tem gente que valoriza mais os clássicos do que os chick list ou vice-versa mas se esquecem que gostos literários são diferentes.
Michelly Santos
Oi Leandro!
Eu falei um pouco sobre clássicos num outro post aqui do blog ( Quem tem medo dos clássicos? ), inclusive mencionei o fato de as escolas obrigarem os alunos a lerem livros os quais eles ainda não estão preparados. Em minha opinião, isso é ruim não só porque cria uma barreira contra os clássicos mas também porque desestimula a leitura de uma forma geral.
Apesar de YA não ser mais meu foco, esporadicamente ainda procuro alguns pra ler. Por exemplo, estou louca pra ler o novo do John Green! 🙂
No final das contas, acho que não é ler apenas clássicos que importa, mas sim ler coisas que vão trazer algo de bom pra nossa vida, seja um vocabulário mais rebuscado, reflexões importantes ou apenas um momento de diversão!
Beijos!
Leandro Firmino
Ooi,
Adorei o texto! Concordo com tudo o que disse. Eu confesso que até hoje tenho um certo preconceito com os clássicos, em especial os que nos obrigam a ler na escola (e.e), mas fiquei feliz em saber que você, no começo, também lia muito YA, pois estou passando por essa fase agora (bom saber que provavelmente no futuro também estarei mergulhando nos clássicos). Não faz muito tempo que entrei nesse mundo louco dos livros então acredito que seja compreensível, né? E claro que sempre que posso, me aventuro em outros gêneros que ainda não tenho conhecimento.
Abraços,
https://tonylucasblog.blogspot.com.br