Sal
Você, com certeza, já ouviu falar de A Casa das Sete Mulheres. Pode não ter assistido a minissérie adaptada ou lido a obra original, mas já ouviu falar da história. Ela foi escrita pela porto-alegrense Letícia Wierzchowski, que tem muitos outros romances em seu currículo, incluindo Sal, que pode ser descrito como a história de uma família.
Essa família vive numa ilha ficcional na América do Sul, mais precisamente no litoral do Uruguai, e cuida de um farol há várias gerações. Segundo a própria autora, é uma história sobre chegadas e partidas, narrada por vários personagens e de uma maneira extremamente bela, poética e delicada.
Ivan e Cecília enfrentaram inúmeras dificuldades até conseguirem formar sua família de 6 filhos, mas tudo corre o risco de desmoronar quando um escritor estrangeiro invade a tranquilidade de La Duvia, desestabilizando tudo a sua volta, inclusive a si mesmo.
Enquanto Cecília conta sua parte da história, ela tece um tapete colorido, onde cada cor representa uma pessoa. Já Flora, filha de Cecília e outra narradora, transmite sua mensagem através da escrita de seu primeiro livro. Assim, Sal também pode ser considerado, em partes, como o processo de criação de uma obra literária, o que a inspira e como ela influencia na vida da própria autora.
Os outros narradores são tratados pelas cores que representam no tapete de Cecília, cada um contando sua perspectiva. Às vezes um único acontecimento recebe a atenção de vários personagens, cada um contando seu lado da história; às vezes as narrativas se difundem entre as experiências pessoais de cada um.
“Eu tenho medo da minha avó. Ela vem à noite e fica parada ao lado da minha cama, só me olhando com aqueles olhos. Eu tenho vontade de gritar: ‘Você morreu!’ Mas eu não sei gritar. Nem caminhar. Nem pentear os cabelos. Nem tomar suco no copo.” – Pág. 46
Dentre as mais lindas, e talvez a mais dolorida, está a pequena parte de Julieta. O curioso aqui é que não é propriamente a personagem que narra sua história, mas sim Flora que ao escrever seu livro se transforma na voz da irmã que nasceu com graves problemas de saúde. E que existência mais cruel a dessa menina.
Mas nessa obra, realidade e ficção se unem e transbordam para a vida do leitor, que hora se vê representado naquelas páginas, hora aprende com os erros dos Godoy. Vários sentimentos são aflorados durante a leitura: raiva, tristeza, compaixão, esperança. É um retrato vívido da vida dando suas rasteiras e nos colocando de pé novamente.
Letícia é uma autora ímpar que tem uma preferência muito clara pelas construções líricas. Todo o seu texto é permeado por um sentimento poético, até nas cenas mais ordinárias. Seus personagens não se preocupam em descrever questões práticas do cotidiano, mas fazem questão de narrar cheiros e cores que conservam na lembrança sobre cada acontecimento.
Ela também foi feliz em outros dois pontos: o primeiro é em fazer muitas menções a outras obras da literatura; e o segundo é na decisão de aludir a acontecimentos vindouros logo no início do texto, mantendo o leitor atento e curioso sobre o que esperar. Junte isso ao fato de os capítulos serem curtos, a escrita extremamente fluida e a trama tocante, assim temos um livro tão rápido de ser lido quanto difícil de ser esquecido.
A edição da Intrínseca não contém textos de apoio ou material extra, mesmo assim é uma bela edição. As cores da lombada são uma referência ao tapete de Cecília e o farol da capa é a luz que guia o leitor até La Duvia, ao encontro dos Godoy. Você vai adorar conhecê-los.
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Autora: Letícia Wierzchowski
Editora: Intrínseca
Nota: 5/5
2 Comentários
Kelly Oliveira
Oi Michelly!
Nossa, fiquei super interessada por esse livro. Acho que vou gostar.
Amei ler esse trechinho que você colocou…
Bj.
cafeebonslivros.home.blog
Michelly Santos
Oi Kelly!
É um livro muito sensível, escrito de uma forma muito bonita. Também acho que você vai gostar! 😉
Beijos!