Resenhas

Ressurreição

Primeiro romance de Machado de Assis, Ressurreição foi publicado como livro em 1872, sem antes ter saído em forma de folhetim como era o costume da época. Através de um narrador onisciente, acompanhamos a história de amor conturbada entre Félix, até então um solteiro inveterado, e Lívia, viúva e mãe de uma criança de 5 anos.

Com seu temperamento inseguro unido à falta de confiança nas mulheres, Félix se mostra um rascunho do que seria o famoso Bentinho, mais conhecido como Dom Casmurro. Já Lívia é mais madura e, assim como outras mulheres criadas por Machado, inspira mais simpatia ao leitor do que seu par.

Apesar de pertencer ao Romantismo, os protagonistas dessa história são práticos e suas ações não são costumeiramente guiadas por arroubos românticos. Por outro lado, a narrativa em si traz importantes características dessa escola, como o foco nos sentimentos, nos pensamentos e nas crenças dos personagens, além de o amor ser o tema central, sempre tratado com um certo drama resultante das idas e vindas do casal principal.

“E o protesto não foi só com os lábios, foi também com os olhos – uns olhos aveludados e brilhantes, feitos para os desmaios de amor. Félix começou a sentir-se bem ao lado daquela moça, e esquecendo de boa vontade a festa em que só aparentemente figurava, ali se demorou longo tempo com ela, alheio aos comentários estranhos, todo entregue ao capricho do seu próprio pensamento.” – Pág. 31

A obra foi muito bem recebida na época de seu lançamento e chegou até a ganhar uma reedição em 1905. O próprio autor afirma na Advertência da Primeira Edição, que foi inspirado por um pensamento de Shakespeare que diz que “nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”. E é exatamente isso o que Ressurreição representa, afinal são as dúvidas de Félix que, de certa forma, guiam os caminhos dos personagens.

Também segundo uma afirmação do próprio autor, esse não é um romance de costumes, mas ensaia uma análise psicológica que viria a ser um dos traços mais marcantes dos textos de Machado, principalmente na fase realista.

O leitor também irá perceber a presença de alguns clichês românticos, como um triângulo amoroso e cartas misteriosas, contudo o final inesperado segue muito mais o estilo dos movimentos que ocorriam na Europa do que o que era publicado no Brasil.

Vale chamar a atenção para uma crítica à Ressurreição feita pelo jornalista Joaquim Serra para um jornal de Porto Alegre, na qual ele profetiza que esse “é um romance que marcará época nos fastos da nossa literatura e será para Machado de Assis o começo de uma carreira triunfal”. E ele tinha razão pois hoje Machado é considerado o grande autor da literatura brasileira, talvez o maior deles, e tudo começou com a história de Félix e Lívia. E isso, por si só, já é motivo suficiente para que você dê uma chance à obra.

Autor: Machado de Assis
Editora: Nova Fronteira
Nota: 4/5

    

12 Comentários

    • Michelly Santos

      Oi Jessica!
      Às vezes nós temos uma ideia de literatura clássica que não corresponde totalmente à realidade, tenho até um post aqui falando sobre isso. Acho que o curso de Letras vai acabar te aproximando mais desse tipo de leitura!
      Beijos!

  • Priih

    Oi Mi, tudo bem?
    Nunca li Machado, mas sempre me interessava nas aulas de Literatura. Adorei sua análise, comparando com os outros livros do autor (e os respectivos estilos/escolas).
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

    • Michelly Santos

      Tudo bem, Priih! Espero que com você também!
      Vale muito a pena ler Machado, seus livros são incríveis, o melhor que nossa literatura têm a oferecer!
      Fico feliz que tenha gostado, tomara que tenha te animado a escolher alguma obra dele pra 2019! 😉
      Beijos!

    • Michelly Santos

      Oi Lu!
      Os romances da 1ª fase são menos comentados mesmo, mas tão geniais quanto os do Realismo. Garanto!
      Beijo!

  • Silvana Crepaldi

    Olá, Michelly.
    Eu nunca li nada do autor acredita. Mas tenho bastante vontade de ler. Esse eu ainda não conhecia, mas gostei da sua resenha e acho que daria uma chance a obra sim.

    Prefácio

    • Michelly Santos

      Oi Silvana!
      Vale muito a pena ler Machado! Aconselho os livros da fase romântica pra começar, eles são mais simples, bom pra ir acostumando com a narrativa do autor. 🙂
      Beijos!

    • Michelly Santos

      Oi Ana!
      Quero muito aquela antologia de Machado da coleção listrada da Cia das Letras! Preciso mergulhar mais nos contos dele, até hoje foquei mais nos romances…
      Já li os 4 livros da fase romântica, meu preferido é Helena (tem resenha aqui também), mas todos são interessantes, sobretudo para que a gente perceba o quanto ele amadureceu na fase realista!
      Beijos!

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