Quem lê mais?
A necessidade de se adequar ao meio é uma característica inerente ao ser humano, o que muitas vezes nos leva a agir em discordância com aquilo que realmente acreditamos. Isso acontece também na literatura, sobretudo quando passamos a integrar grupos de leitores que compartilham suas experiências e, consequentemente, seu volume de leituras. Pense se já aconteceu de alguém dizer que leu 100 livros em um ano e você se sentiu mal por ter lido apenas 30? Comigo já.
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Mas vamos analisar essa situação friamente.
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Uma pessoa que leu 30 livros em um ano está bem acima da média dos brasileiros, que é de 2 obras por ano de acordo com a última pesquisa divulgada sobre o tema. Na verdade, quem leu 10 livros já está bem acima da média, se formos contar apenas número de livros.
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Entretanto, existem livros com os mais variados números de páginas, de maior ou menor complexidade, um pouco mais ou um pouco menos fluidos, e tudo isso faz com que essa conta não seja tão simples assim. Vamos supor que uma pessoa leu um livro de 600 páginas enquanto outra leu 6 obras de 100 páginas, não seria justo dizer que o segundo leu mais que o primeiro. Portanto, o número de páginas já desponta como um critério mais realista para quantificar nossas leituras.
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Mais realista porém não absoluto. Além do número de páginas é importante avaliar outras características das obras lidas, como a complexidade do tema proposto e o estilo da narrativa.
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Sem entrar na discussão sobre livros bons ou ruins, tanto porque já falamos sobre isso aqui, é fato que existem obras mais fáceis de serem lidas e outras que exigem maior concentração; e também é fato que livros mais fáceis são lidos mais rapidamente que os mais difíceis. Aí vem outro desdobramento: um tema pode ser fácil para mim e difícil para você, mais um ponto que influencia na velocidade, e consequente quantidade, de leitura de cada um.
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O tipo de narrativa é outro fator que deve ser levado em consideração. Se por um lado existem textos fluidos, com um vocabulário mais modesto e construções que facilitam o entendimento, por outro temos as obras cujos autores optaram por uma narrativa rebuscada e um vocabulário mais esmerado. Outra vez é óbvio que a leitura do segundo tipo tende a demorar mais que a do primeiro.
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Podemos dizer, então, que é praticamente impossível responder a pergunta proposta no título dessa postagem, a não ser que sejam comparados leitores com exatamente as mesmas condições (experiência, nível cultural e intelectual) e que tenham lido livros com características muito próximas. E além de ser uma quantificação muito difícil de ser alcançada de forma confiável, essa nossa mania de nos compararmos é, na maioria das vezes, contraproducente.
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Quando um leitor se compara a outro sem levar em consideração todas as coisas que foram citadas acima, ele corre o risco de se colocar em uma posição de inferioridade e, por consequência, desanimar e diminuir o ritmo de leitura. Claro que existe o outro lado, aquele de quem usa essa comparação como um motor para se impulsionar a ler mais, e se você consegue fazer isso, ótimo!
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O importante é não cair na armadilha de disputar a quantidade de leitura apenas para ter a ilusão de ser melhor, assim como ninguém precisa se achar pior que outros leitores por ler menos.Se for para disputar, que seja apenas consigo mesmo: leia mais, aprenda, evolua, aperfeiçoe suas capacidades, descubra novas possibilidades. Mas não faça nada disso tendo os outros como foco, faça isso única e exclusivamente por você.
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O seu brilho não impede ninguém de brilhar, assim como o brilho dos outros não ofusca o seu. Sucesso para mim pode ser ler 80 livros por ano, para você pode ser ler 10, para alguém pode ser conseguir terminar aquele calhamaço difícil, para outro pode ser ler todos os YA que forem lançados no ano. No fim, não importa quem lê mais, apenas brindemos ao sucesso: o meu, o seu, o nosso.
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12 Comentários
Michelly Santos
Oi Nanda!
É exatamente essa a mensagem que eu queria passar, tanto porque incentivar a competição não significa leitura de qualidade, e a intenção é incentivar a leitura de qualidade. Independente do que se lê, mas leia com atenção e tente refletir sobre aquilo, isso que importa.
Obrigada pelo comentário!
Beijos!
Michelly Santos
Oi Kelly!
Primeiramente preciso dizer que adoro seus comentários! Me sinto realmente prestigiada porque fica claro que você leu com atenção e refletiu sobre o tema, que é o que todo mundo que escreve pro público espera! Muito obrigada!
Entendo perfeitamente o que você disse. Isso está ligado ao fato de cada leitor ter suas próprias características e experiências, portanto é bobagem pedir resultados iguais de pessoas diferentes. O ato da leitura, por mais que a gente divida nossas reflexões com outros leitores, é uma atividade solitária, você tem toda a razão.
Obrigada pelo carinho de sempre!
Beijos!
Michelly Santos
Oi Kaila!
Qualidade vale mais e em tudo, né, não só na literatura! 😉
Beijos!
Michelly Santos
Oi Aléxia!
Também já falei sobre preconceito literário aqui e acredito que esses dois assuntos estão intimamente ligados. Esse lance de querer ler mais para se sentir melhor é tipo se achar melhor do que outros leitores por ler coisas mais complexas. É óbvio que tem diferença entre ler Dostoiévski e John Green (e eu gosto dos dois), mas isso não significa que o leitor de um é melhor que o do outro!
Obrigada pela sua contribuição! 🙂
Beijos!
Michelly Santos
Oi Cássia!
Eu também prezo pela qualidade, mas confesso que foi uma coisa que eu adquiri de acordo com meu amadurecimento. Também acho que mais vale ler um livro e captar tudo o que ele tem a nos dizer do que ler 10 e ano que vem nem lembrar direito deles.
Beijos!
Cássia
Eu acho que o que mais vale é a leitura com qualidade, gosto de ler meus livros em um ritmo que eu possa absorver bem a história, do que adianta ler 10 livros e ler todos correndo e não entender nada?
http://www.estante450.blogspot.com.br
Aléxia Macêdo
Eu reflito muito sobre isso também, Michelly. E até mesmo o último post no meu blog foi sobre preconceito literário e a necessidade de alguns leitores de se sentirem superiores a outros.
Acho isso uma grande bobeira, o importante é ler, seja 10 livros ou 100. O importante é a gente respeitar nosso ritmo, nossos gostos, nossas escolhas próprias. Lermos por amor e prazer ao conhecimento e ao hábito da leitura. Sem disputas, sem superioridade. Os Delírios Literários de Lex
Kaila Garcia
Amei sua reflexão, viu? Com certeza qualidade vale mais que quantidade!
http://www.kailagarcia.com
Kelly Oliveira
Em tempos como o nosso, em que a aparência das coisas vale mais do que o que realmente elas são, em que a troca do real pela ilusão é feita de maneira consciente, eu afirmo, textos como esse são muito necessários. Há coisas que de tão importantes precisam ser relembradas.
Para lançar uma pequena semente à discussão… O modismo que ronda o pequeno progresso da disseminação da leitura no país, pelo menos é o que sinto pelas redes, as vezes me preocupa ou me decepciona. Consumo por consumo, disputas (passivas, como essa que você apontou), preconceitos…
Apesar do blog e das minhas outras redes, tenho uma vida literária solitária e gosto muito disso. Leio o que quero, abandono quando quero, classifico como os quero, e leio o "quanto" eu quero. É comum após uma leitura muito boa ou densa eu ficar até um mês sem ler nada, só para digerir… Ou seja, se ler uns 10 desses no ano provavelmente esse será o número de leituras totais (rs).
Acompanho muitos leitores, coleto diariamente muitas indicações (boas e ruins), mas tenho a vida literária de cada uma dessas pessoas (ou perfis) como solitárias também, você entende? São a vida literária delas, e eu tenho a minha. É assim que me posiciono no meio disso tudo.
Parabéns pelo post. Bj.
https://cafeebonslivros.blogspot.com/
Nanda Sales
Excelente conclusão! Incentivar a leitura é muito mais importante que incentivar a competição entre os leitores. Afinal, o que importa mesmo, é que estamos lendo e lendo bem mais que a média nacional e isso já é uma grande vitória!
Parabéns pela postagem!
Beijinhos <3
Toca da Lebre
Michelly Santos
Oi Luiza!
Eu também faço meta e acabo me cobrando muito mais para cumpri-las do que pela comparação com outros leitores! 🙂
Beijos!
Luiza Helena Vieira
Oi, Mi!
Adorei sua reflexão!
Eu mesma tento não me focar tanto em quantidade de livros pra ler no ano… Eu sei que coloco uma meta, mas se eu alcançar, ótimo; se não, ótimo também. O que importa é que li livros bons e que me agradaram.
Beijos
Balaio de Babados