O Oitavo Anão
Pare tudo o que você está fazendo e escute essa história… Branca de Neve é uma megera. Sim, aquela moça delicada e bondosa que a Disney nos apresentou não é bem verdade. E tem mais: não eram sete anões, mas sim oito, só que a princesa gostava mais do número ímpar e por isso o oitavo anão foi banido, indo viver numa floresta encantada onde os animais não respeitam a cadeia alimentar e, ainda por cima, falam.
Essa é a história que Alessandra Rubim nos apresenta em seu promissor primeiro romance infantojuvenil. Além de uma escrita fluida e eficaz, o reconto de Branca de Neve apresenta um texto criativo, engraçado e cheio de mensagens importantes, sobretudo se levarmos em conta o público-alvo da obra.
São abordadas questões como o respeito às diferenças, a força da amizade, a lealdade e o apreço às regras. Mas o que se apresenta com mais força é a velha discussão sobre causa e consequência. O quanto as experiências vividas por uma pessoa, sejam essas boas ou más, influenciam em seus atos? O sofrimento de alguém justifica a crueldade dessa mesma pessoa para com seus semelhantes?
“Assim como outros deuses, concederei tal pedido, mas terão que unir forças para encontrá-lo. Não dificultarei mais do que os inconvenientes do dia a dia, mas não vos direi o caminho. Tenham a certeza de que a partir de agora há um lago em Gaia que responderá três perguntas que forem feitas por um coração bom a fim de semear o bem. O trabalho agora é com vocês. Porque tudo o que é fácil não tem valor.” – Pág. 33
Apesar de propor essas perguntas, Alessandra não entrega uma resposta definitiva, mas faz melhor. Ela mostra os fatos sem fazer nenhum tipo de defesa ou acusação, dando espaço ao leitor para refletir e formar livremente sua opinião. E tem coisa melhor do que autor que confia no leitor?
Como é um infantojuvenil, o texto é fácil e descomplicado, o que não torna a narrativa boba. Muito pelo contrário, O Oitavo Anão é a prova de que uma escrita simples também pode ser extremamente competente e de qualidade. Tanto a construção da narrativa quanto a dos personagens é muito bem feita. As ações são explicadas e bem amarradas ao final.
Já os personagens têm características muito próprias que marcam a personalidade de cada um, o que é respeitado até o final, sem inconstâncias. Um, em particular, me fez dar gargalhadas por causa do seu jeito dramático e teatral, tornando-se meu preferido. O anão do título, por sua vez, não participa tanto da ação mas é a presença dele que faz a história girar, afinal nós só conhecemos o que a autora chama de “verdadeira história da Branca de Neve” graças a ele.
“- Me deixa, Serpente! Estou esgotado, exausto, irritado e neurastênico. Vivi muito drama esses dias. O lago pode sim, facilitar. Vamos conversar de adulto pra adulto, de lago para Veado. Pã que me perdoe, pode soltar seus sons e clarões. Sim, estou em crise, logo passa, mas meu povo, isso é estressante demais.” – Pág. 69
Por fim, vale frisar a espetacular ligação entre O Oitavo Anão e a história que já conhecemos sobre a alva princesa, sobretudo através da Disney. Esse livro não vem para substituir o original, mas sim para complementar. A proposta aqui é que, enfim, seja contada a tal “história real” e ainda explicar como a versão que se perpetuou foi aquela que nós conhecemos.
Indico essa obra a qualquer leitor, e não só os da faixa abarcada pela classificação infantojuvenil, inclusive adultos e crianças. Mas, aqui, chamo a atenção apenas para um pequeno trecho no final da história que pode parecer um pouco mais violento para pais mais sensíveis. Eu, particularmente, não veria problema algum, mas fica o aviso: sempre leia os livros antes de seus filhos, pois quem sabe o que é melhor pra eles, é você.
Caso a obra tenha te interessado, e eu espero que sim, ela está a venda diretamente com a autora através do @alerubim ou pelo link abaixo.