O Médico e o Monstro
Em O Médico e o Monstro, Robert Louis Stevenson inova a estrutura da ficção gótica, explorando a atmosfera sobrenatural mas deixando de lado características tradicionais do gênero, como a descrição de longas viagens, por exemplo, comumente usadas para intensificar o mistério dessas tramas.
Aqui, o principal elemento de horror encontra-se no interior de um indivíduo respeitável, o qual sucumbe aos prazeres mais mesquinhos que a alma humana pode desejar. O sobrenatural tem uma explicação científica e a forma escolhida pelo autor para contar sua história, misturando narrativa e relatos, contribui para manter a atenção do leitor.
Em 1884, Stevenson já dava sinais de seu interesse pela duplicidade do caráter humano, ao publicar o conto “O Ladrão de Cadáveres”, cujo personagem principal vive uma vida dupla. Já tive a oportunidade de ler esse conto e com certeza pude encontrar ali vários elementos que também estão presentes em O Médico e o Monstro. Assim, podemos dizer que o maniqueísmo é a marca principal dessa história, a qual busca claramente o confronto do bem contra o mal. Porém, com o diferencial de que, aqui, essa luta ocorre dentro de um só personagem.
Durante a maior parte do texto, acompanhamos a construção do mistério tendo como figuras centrais o Dr. Jekyll e Mr. Hyde. O caso estranho que dá origem à história só é realmente explorado no último capítulo do livro, quando ficamos sabendo o que, de fato, aconteceu.
Algo muito interessante de observar foi a motivação por trás da escolha da aparência do médico e do monstro. Não vou revelar os pormenores para não estragar a experiência para quem ainda não leu, mas posso garantir que nada é por acaso no texto de Stevenson. Hyde é muito mais que o lado ruim de Jekyll. Ele é o instrumento que o médico utiliza, ainda que de forma inconsciente, para fazer tudo aquilo que não se atreve por ser considerado socialmente reprovável. Nesse ponto, inclusive, me fiz uma pergunta que muitos já devem ter feito: qual deles, de fato, é o monstro?
Num plano mais amplo, Hyde, homófono do verbo “to hide”, que significa “esconder” em inglês, simboliza tudo o que nós queremos ocultar do mundo, todas aquelas características das quais nos envergonhamos e todos os comportamentos que só nos permitimos em particular, longe de testemunhas.
Editora: Penguin Companhia
Nota: 4/5
6 Comentários
Michelly Santos
Oi Nanda!
Pelo que vejo, muita gente começou a ler por causa de O Médico e o Monstro, o que me faz admirar ainda mais esse livro. Queria eu ter lido quando mais nova, antes de saber da grande surpresa da história. Mas mesmo já sabendo sobre o mistério, foi uma leitura excelente!
Beijos!
Nanda Sales
Tenho muito carinho por esse livro, pois foi graças a leitura dele, que hoje eu amo literatura <3
Toca da Lebre
Michelly Santos
Oi Rodolfo!
Fui longe, lá no século XIX! kkkkkkk
Eu só li esse livro agora, bem longe da adolescência, mas tb gostei muito dele!
Deveria ter lido antes! 🙂
Beijos!
Rodolfo aurelio
Caramba foi longe agora esse foi um dos primeiros livros que li ainda na adolescência muito bom
Michelly Santos
Oi Jason!
Eu ainda não vi nenhuma adaptação dessa obra, mas acho que vou começar por esse filme de 31 então! 🙂
Obrigada pela dica!
Beijos!
Jason Bertinelli
Eu li 'O Médico e o Monstro' no ensino médio (faz um bom tempo já), e acabei não gostando muito por que ja tinha visto tantas vezes paródias e releituras da história que acabaram por estragar minha experiência com o livro, não achei ruim, apenas tive uma experiência ruim, tenho que reler.
Recentemente assisti o filme de 1931 para um projeto do blog, e gostei muito do filme, as alterações para mim foram muito bem vindas e toda a estrutura envolta do enredo me agradou muito.
xoxo
Planeta 94