Resenhas

Dom Casmurro

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Dom Casmurro foi o sétimo romance escrito por Machado de Assis, publicado em 1899. A trama acompanha a evolução do relacionamento entre Bento e Capitolina, dois dos personagens mais icônicos da literatura brasileira. Amigos desde crianças, observamos o despertar do amor entre ambos através de cenas sensíveis, capazes de deixar o leitor com saudades de um tempo que ele sequer viveu.
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Logo no início Bento conta o porquê de ter recebido a alcunha de Dom Casmurro, e já aí o leitor mais atento começa a desconfiar desse narrador. Como toda narrativa em primeira pessoa, Dom Casmurro não é imparcial, mas quando ele diz o significado da palavra “casmurro” afirmando que o leitor não precisa nem se preocupar em conferir a veracidade daquela afirmação, percebemos que Bentinho é ainda menos confiável do que esperávamos, pois, ao teimarmos em verificar o tal significado descobrimos que ele só contou ao leitor sobre aqueles que lhe interessam, omitindo outros que poderiam deixar o leitor desconfiado sobre sua personalidade.
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Já Capitu nos é apresentada como uma garota alegre e esperta. É fácil perceber que ela supera Bentinho também em inteligência e em simpatia, o que nos dá a impressão de que o narrador se sente ameaçado pela força daquela menina com ares de mulher. Isso se comprova em um certo momento do texto onde Dom Casmurro afirma que Capitolina era mais mulher do que ele era homem.
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A presente obra é amplamente conhecida pelo final aberto, o qual não deixa nenhum sinal da intenção original de Machado de Assis visto que ele, brilhantemente, vai deixando detalhes que permitem ao leitor chegar à uma ou outra conclusão sobre o grande mistério proposto pela obra: Capitu traiu ou não? Mas não se engane, o texto do Bruxo do Cosme Velho é para leitores atentos e essas pistas estão distribuídas de forma bastante sutis, tanto que, em minha primeira leitura, aos 12 anos, muitas passaram despercebidas por mim, que ainda não tinha experiência nem maturidade suficientes para entender os meandros dessa história.
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Como é característica das obras de Machado, os capítulos são curtos, alguns não passando de um único parágrafo, o que ajuda na velocidade da leitura mesmo se levarmos em consideração a escrita rebuscada que nos é apresentada. Lembrem-se que o livro foi escrito no fim do século XIX, portanto é esperado que encontremos alguns arcaísmos quando a edição opta pelo texto original – que é sempre melhor que o adaptado.
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Figurando, talvez, como a maior obra da literatura brasileira, ou pelo menos a mais conhecida, Dom Casmurro é objeto de estudo não só na área da literatura mas também do direito e da psicologia. Bentinho acabou por formar-se em direito e sua habilidade como excelente orador treinado no convencimento fica clara desde o início. Todo o texto é praticamente uma defesa da culpa de Capitu. Por outro lado, também é óbvio sua fragilidade psicológica, o que nos leva a desconfiar de seus argumentos, por mais bem construídos que sejam. Bento sempre foi superprotegido, desconfiado, de baixa autoestima e até um tanto egoísta. Tudo isso representa um campo fértil para estudos aprofundados sobre a obra.
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Otelo de Shakespeare foi uma grande influência para Machado, sendo que essa peça é citada durante a narrativa e influencia diretamente na história. Nesse ponto, vale frisar o quanto é incrível perceber que grandes mestres se espelharam em outros grandes mestres, provando que o exemplo é a melhor fonte de aprendizado.
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Minha edição é parte do box da Nova Fronteira, sendo este o segundo volume o qual contém outras duas histórias além de Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, ambas com resenhas aqui no blog. A fonte é agradável e não encontrei erros de revisão. O motivo de não ter dado nota 5 foi o fato de ter sentido a parte do seminário um pouco arrastada, mas, obviamente, isso é apenas uma impressão pessoal, nada que desabone a magnitude da obra.
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Tendo nos deixado essa e outras criações irretocáveis como legado, Machado de Assis descansa no panteão dos grandes escritores mundiais, figurando como o maior representante da literatura brasileira, motivo suficiente para nos orgulharmos e nunca deixarmos de exaltar esse verdadeiro herói nacional.
Autor: Machado de Assis
Editora: Nova Fronteira
Nota: 4/5

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