Resenhas

A Princesa Prometida

Um livro tão divertido quanto a adaptação que o celebrizou. Acho que essa é a melhor forma de começar uma resenha sobre A Princesa Prometida livro que William Goldman escreveu mas finge que não. Explico: logo na introdução da obra, antes mesmo de começar a narrar a história de Buttercup e Westley, Goldman faz um adendo para contar como ele supostamente conheceu o livro que teria sido escrito por um tal de S. Morgenstern.

Durante toda a narrativa Goldman faz interferências na história de Morgenstern para explicar porque ele cortou essa ou aquela parte, o que dá um tom divertido de bate-papo à obra, e o leitor fica em dúvida se aquilo que ele contou na introdução é ou não verdade.

Não é. Não existe Morgenstern, não existe Florin – que é o país fictício onde a trama é ambientada – e William Goldman é o único responsável pelo livro, além de ter sido também roteirista da adaptação cinematográfica. Mistério esclarecido, passemos à trama…

Buttercup é uma garota bonita que mora na fazenda onde Westley trabalha. Ela gosta de mandar no garoto, e ele responde a todos os seus comandos comum educado “como quiser”. Mas o que Buttercup não  sabe é que cada “como quiser” de Westley significa, na verdade, “eu amo você”. Eis que um dia ela se descobre perdidamente apaixonada pelo rapaz, que finalmente se sente confortável para declarar seu amor.

Sonhando uma vida juntos, Westley decide navegar até a América para buscar fortuna e dar a vida que Buttercup merecia. Porém, uma tragédia acontece e o casal se desfaz. Depois de um tempo, a garota, desiludida e prometendo nunca mais amar novamente, acaba ficando noiva do príncipe Humperdinck, mas outra tragédia ocorre: ela é sequestrada e passa a correr um sério risco de morte.

Não estranhe meu resumo da trama ser tão objetivo pois é exatamente esse o clima do livro. Goldman, nas intervenções que faz durante o texto, as justifica como um meio de agilizar a história, deixá-la mais dinâmica, e ela é realmente muito acelerada.

Claramente o que o autor quis fazer foi uma sátira aos contos de fadas. Para isso ele utiliza falas afetadas, sentimentos exacerbados, cenas de ação mirabolantes e, claro, príncipes e princesas. Por outro lado, na parte onde ele conta sobre a própria vida (na introdução que citei no início do texto e também no final do livro), a imagem que cria é totalmente o contrário de um romance de contos de fadas: seu casamento é infeliz e seu filho caminha a passos largos em direção ao fracasso.

“- Tem algum esporte na história?
– Esgrima. Luta. Tortura. Veneno. Amor verdadeiro. Ódio. Vingança. Gigantes. Caçadores. Homens maus. Homens bons. As moças mais bonitas. Cobras. Aranhas. Criaturas de todos os tipos e formas. Sofrimento. Morte. Homens corajosos. Homens covardes. Os homens mais fortes. Perseguições. Fugas. Mentiras. Verdades. Paixões. Milagres.
– Parece legal – falei, e fechei os olhos. – Vou fazer o possível para ficar acordado… Mas estou com muito sono…” – Págs. 15-16

Esse contraponto entre autor e obra é extremamente interessante pois, se pararmos pra pensar, não é difícil confundi-los. É um debate até clássico na literatura essa relação entre autor e obra e em como o leitor entra nessa equação. Nem sempre o autor escreve sobre aquilo que sente, sendo que as características que mostra em sua escrita não necessariamente espelham sua personalidade na vida. Estaria Goldman indo tão longe nas reflexões propostas em A Princesa Prometida? Não dá pra saber, tanto porque às vezes parece que nem ele mesmo leva a história à sério.

Um ponto que, em minha opinião, prejudica a fluidez do texto, que aliás é muito divertido, são as constantes intervenções do autor, as quais quebram o ritmo da narrativa e nem sempre esse artifício é bem-vindo. Existe um certo exagero na utilização desse recurso, o que o torna um pouco irritante.

Outro momento onde Goldman poderia ter “diminuído o falatório” é quando a história termina (mas não termina de verdade). Nessa parte o autor sai da fantasia e vai para a vida real (que não é real), onde conta a trajetória da adaptação da obra e de sua suposta continuação. Perceba como, nesse livro, tudo parece ser uma coisa mas é outra.

Pois bem, o trecho citado é longo e chega a ser enfadonho. A história que ele inventa (mas finge que é real e a gente só sabe que não é quando vai pra internet pesquisar), se prolonga em detalhes desinteressantes e que o leitor definitivamente não se interessa.

Contudo, felizmente ele volta à trama principal nos presentando com o que seria o primeiro capítulo do segundo volume (mas não é, porque não existe essa continuação). Esse capítulo volta a ganhar o leitor e traz novas – e surpreendentes – informações sobre os personagens, dando – aí sim – um final digno para a história de Buttercup e Westley.

A edição da Intrínseca tem capa dura com uma belíssima ilustração que conta toda a história do livro. Na folha de guarda tem um mapa que mostra a trajetória que os personagens irão percorrer. A fonte utilizada no texto é muito confortável e as páginas são amareladas, o que ajuda ainda mais na leitura. A tradução ficou a cargo de Alice Mello.

Talvez essa resenha tenha ficado um tanto confusa, fugindo do que busco trazer normalmente. Mas hoje não é um dia normal simplesmente porque A Princesa Prometida não é um livro normal. É louco, nonsense raiz mesmo, e muito divertido. Você vai se sentir assistindo a adaptação na Sessão da Tarde, com a diferença de que o livro é sempre muito melhor.

Título original: The Princess Bride
Autor: William Goldman
Páginas: 416
Editora: Intrínseca
Nota: 4/5

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